05 outubro 2009

HORTÊNCIA - “Vamos para as cabeças”


A ex-jogadora de basquete Hortência Marcari completou 50 anos, na quarta-feira, 23 de setembro, dia que marca a entrada da primavera. Não por acaso, tem nome de flor. Não por acaso, é chamada de rainha. É uma das atletas mais vitoriosas do País: medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Havana, em 1991; campeã do Mundial na Austrália, em 1994 e também medalha de prata na Olimpíada de Atlanta, em 1996. Está entre um seleto grupo de brasileiros que figuram no Hall da Fama do Basquete Mundial. Aqui, Hortência relembra os grandes momentos da carreira, comenta a paixão pelo Corinthians e revela o que vai fazer como diretora técnica da Confederação Brasileira de Basketball (CBB).

1 – Qual é seu objetivo na CBB?
É fazer um trabalho bacana, com planejamento estratégico. Eu participo de reuniões da Confederação, cuidando de toda a parte técnica das seleções. Por isso, tenho viajado para ver o que acontece no mundo e o que temos que fazer no Brasil, a médio e longo prazo, para que o basquetebol retome o lugar que sempre teve. Nós, do basquetebol feminino, estamos hoje em quarto lugar no ranking mundial, o que indica que temos um potencial muito grande no adulto. Porém, nas categorias menores, há uma defasagem.

2 – O que é possível esperar do basquete na Olimpíada de Londres?
Londres, eu não posso ainda afirmar: “Nós vamos trazer uma medalha”. Mas, na de 2016, pode ter certeza: nós vamos para as cabeças.

3 – Por que não houve continuidade da sua geração no basquete, como tem acontecido, com o voleibol?
Quem tem organização melhor, caso do voleibol, colhe os melhores frutos. O que acontece com o basquete é resultado de gestões mal feitas, inclusive na nossa época. Só que ali havia duas jogadoras – eu e a Paula – que seguravam a onda. Não tinha nada a ver com gestão. Porém, agora, se não houver gestão profissional, não se conquista nada. Por isso, para que os novos talentos não deixem de aparecer, é necessário professores e treinadores capacitados a dar treinamentos corretos e que estejam antenados com o que acontece no mundo.

4 – Como você venceu as adversidades de uma origem humilde para se tornar a “rainha do basquete”?
O meu objetivo era chegar lá e eu cheguei, treinando, fazendo exatamente aquilo que me orientaram. Comecei a jogar handebol, depois aprendi atletismo e voleibol. Quando me apresentaram a bola de basquete, foi onde tive mais oportunidades e me apaixonei. Por isso, conduza sua vida pelos caminhos certos que os sonhos automaticamente irão ao seu encontro.

5 – Qual é sua opinião a respeito dos atuais contratos milio-nários no esporte?
Desde quando comecei, há 30 anos, o esporte se profissionalizou e virou uma fábrica de ganhar dinheiro. Por que o atleta, que faz o show e traz as pessoas para assistir aos jogos, não pode ganhar também? Agora, depois que assinou o contrato, tem que honrar a camisa que o está pagando.

6 – Quais são os títulos e as cestas mais importantes da sua carreira?
Sem dúvida foi o Campeonato Mundial na Austrália. Nós demoramos 18 anos para sermos campeãs do mundo e amadurecemos e entendemos que o mais importante era o trabalho em equipe, com todos tendo o mesmo objetivo. Em nossa opinião, Estados Unidos era o time a ser batido e nós o pegamos na semifinal. Aí, fomos para a final com mais moral do que em qualquer outra competição. Não que já estivesse resolvido contra a China. Depois, tivemos a medalha de prata, numa final olímpica, que também foi fantástico, e não podemos esquecer a medalha emocionante que foi a do Campeonato Pan-Americano, em Cuba, quando tivemos a honra de ter a medalha entregue pelo Fidel Castro. Quanto às cestas, todas foram importantes, mas uma de três pontos num Pré-Olímpico contra a Austrália, faltando poucos segundos para terminar o jogo, talvez tenha sido bastante importante.

7 – Existia muita rivalidade entre você e a Paula?
A rivalidade tem que existir sempre, entre pessoas, empresas, clubes, desde que seja saudável e era o que acontecia com a gente na quadra. Hoje, ela trabalha no Centro Olímpico e nos falamos de vez em quando. Não somos amigas íntimas, mas nos respeitamos muito.

8 – Em que momento você resolveu deixar as quadras?
Estava com 36 anos, queria ser mãe e não poderia mais adiar esse sonho. Então, junto com a notícia da minha parada, eu anunciei que estava grávida. Curti muito esse momento. Aí, tive o João Vitor, voltei para jogar a Olimpíada, ganhei uma medalha e parei de vez. Depois da Olimpíada, eu tive o Antonio e nunca me arrependi de ter parado, pois soube fazer as coisas na hora certa.

9 – Como você lidava com as vitórias e as derrotas?
Quando se perde um jogo, fazendo tudo o que podia – treinou, se dedicou, brigou –, você não é derrotado. O outro é que ganhou. A derrota é quando você poderia ter se dedicado mais. Já saber vencer é muito difícil. Por isso, eu gosto de colocar meus filhos no esporte. O esporte ensina.

10 – Você também sempre defendeu o Corinthians. De onde vem tanta paixão?
Essas coisas são se explicam. Você nasce. Eu nasci corintiana e a minha contribuição com o clube é ser conselheira e ver se o presidente está fazendo as coisas certas. Uma gestão honesta, sincera e transparente é o mais importante.

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