31 março 2009

Pastor metaleiro troca o Iron Maiden pela palavra de Cristo


Fanático pela banda até 2005, Marcos Motolo tem o corpo inteiro tatuado.
Convertido após uma 'visão', ele diz agora que é capaz de fazer milagres.

O autoproclamado fã número 1 do Iron Maiden mora em um sobrado humilde no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo. Fanático pelos metaleiros desde a década de 1980, Marcos Motolo, 36, diz ter feito 172 tatuagens da banda por todo o corpo e, como se o feito não bastasse para provar sua devoção, ainda registrou o filho de dez anos como Steve Harris em homenagem ao lendário baixista do grupo.
Personagem do documentário "Flight 666", filme oficial da banda britânica de heavy metal que tem estreia nos cinemas prevista para o mês que vem, o pastor metaleiro não renega o seu passado. Em vez disso, tem usado sua história pessoal para "semear no deserto".

"Se a pessoa souber curtir o heavy metal ou qualquer coisa, pode ser até funk ou futebol, sem se envolver em coisas que destruam sua saúde, é bom. Os caras do Iron Maiden, por exemplo, são inteligentes.

"A maldição só existe quando você acredita nela", defende Motolo, que entre as marcas no corpo tem inscrições de 666 - "o número da Besta" -, diversas versões do monstro Eddie, o mascote do Iron Maiden, e algumas imagens de guerra e mutilação que fariam arrepiar os cabelos de fiéis mais ortodoxos. "Eu não acredito que nada que eu tenha venha me prejudicar de alguma forma. A Bíblia fala que nenhuma condenação existe quando a pessoa encontra Cristo. Por isso que você vê muito ex-matador, ex-traficante ou ex-roqueiro que vira pastor. Semana retrasada um grande líder dos Carecas do Subúrbio [tradicional gangue paulista de neonazistas] voltou para a igreja", afirma.

No princípio era o rock - Filho de pais religiosos, o pastor diz que nunca havia lido os evangelhos até a sua conversão, em 2005.
Depois de ler uma entrevista publicada em 1982, Motolo ficou fissurado pela banda. Passou a gastar toda a mesada comprando os discos em vinil do grupo, que ouvia em uma vitrola portátil. "Eu 'tocava' as músicas do Iron Maiden.
Pouco depois, fundou um fã-clube chamado Piece of Maiden, que reunia outros fanáticos pela “donzela de ferro” – um dos apelidos pelo qual o Iron Maiden é conhecido.
A idolatria incluía até leituras "satânicas", sempre à procura das referências citadas nas músicas do Maiden, do bruxo Aleister Crowley às obras do escritor de horror HP Lovecraft. "Eu entrava em cemitério de noite, via filme de terror, subia na caixa d'água da escola para ver o Sol nascer. Tudo o que era proibido agradava. Mas eram peraltices que não eram agressivas. Eu preferia entrar no cemitério ou subir em caixa d'água do que colocar uma arma na cintura e sair por aí matando. A gente não agredia ninguém. Se viesse a ter algum mal, seria contra nós mesmos", justifica.

Pele à venda - A primeira tatuagem - o Eddie do disco "Piece of mind", gravado no peito - foi feita em 1999 e, dali em diante, relata Motolo, foram seis anos de sessões diárias até chegar às 172 que diz ter feito no total. A contagem, no entanto, obedece a um método peculiar: cada letra ou objeto diferente riscado no corpo ele considera uma tatuagem.
Motolo conta ainda que chegou a ser contatado por um membro da Yakuza, interessado em comprar a sua pele tatuada por algumas dezenas de milhões dólares. Relatos sobre o mercado de compra e venda de pele ligados à máfia japonesa não são inéditos, mas geralmente são difíceis de se comprovar.
O pastor, no entanto, sustenta sua versão e diz que estava prestes a fechar o negócio, quando teve a visão que mudaria sua vida para sempre.

"No dia 10 de abril de 2005, eu estava deitado na minha casa, muito preocupado porque eu ia fazer a última tatuagem. Ia tomar uma anestesia e ficar 48 horas desacordado para tatuar embaixo das unhas. De madrugada me faltou sono, e eu tive uma visão em que um homem de fogo apareceu e falou para mim que eu não teria nem fama nem dinheiro, mas que, a partir daquele dia, ele ia me levar para os quatro cantos da Terra e, onde eu colocasse meus pés, as pessoas seriam transformadas pelo poder de Deus", conta."E aconteceu. Desde então, dois mortos com óbito já ressuscitaram, um câncer de 9 cm sumiu de dentro do ventre de uma moça, paralítico anda, cego vê, mudo fala e escuta através do poder da palavra de Deus."


A pele do pastor inclui diversas versões do monstro Eddie, o mascote do Iron Maiden, e até inscrições do número 666. Segundo Motolo, oito delas desapareceram 'por milagre' (Foto: Reprodução/G1)

Mas a lista de milagres que Motolo diz ter experimentado não para por aí. Na mesma profética visão de abril de 2005, o pastor diz ter ouvido de Deus que “seria imortal na Terra até que todas as tatuagens desaparecessem”. “E, por milagre, oito tatuagens já se apagaram do meu corpo. Agora tenho 164”, afirma. Nesse ritmo, vai viver até quando, pergunta a reportagem? "Com Deus é um mistério. Pode desaparecer tudo num só dia ou pode demorar um pouco mais. Mas elas estão sumindo gradualmente, devagarinho...", insiste.

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