24 junho 2009

"PASTOR DO SANTOS" BRUM RECUPERA DROGADO E QUER PAZ A F.COSTA


Roberto BRum, 30 anos.
Chega firme nos adversários, cede poucos espaços, é incansável na marcação. Fora de campo, esse fluminense de São Gonçalo é o oposto, como já pôde ser atestado em sua apresentação no Santos, há cerca de um ano, quando comparou a situação do clube com a de uma águia e virou sucesso no Youtube. Desde então, o volante coleciona declarações engraçadas e cheias de bom humor.
Roberto Brum, evangélico fervoroso, chegou acompanhado de dois colegas de religião. Em uma mão, um cd de música gospel. Na outra, um óleo de igreja para ungir as pessoas no culto. Em quase uma hora de entrevista, a palavra Deus foi pronunciada mais de 20 vezes por Brum, chamado de pastor pelos companheiros de clube.
Nesta primeira parte da entrevista, Roberto Brum fala de como vem ajudando na recuperação de Pato Rouco, um morador de rua famoso nos arredores da Vila Belmiro. Pede, também, mais paz para Fábio Costa.
Confira a primeira parte da entrevista com Roberto Brum:

Terra - Você é um cara muito espontâneo. Acha que falta isso no meio do futebol?
Roberto Brum - Não é fácil falar em público. Às vezes, o jogador é espontâneo no dia a dia e, quando chega nos microfones, fica acanhado. Principalmente os mais jovens.
Me lembro que a primeira vez que fui até um programa de televisão, tremia muito. Até porque me pediram nos bastidores para que eu falasse mal do meu treinador na época, que era o Parreira. E ele era tudo pra gente: botou salários em dia, fez pré-temporada na Espanha, conseguiu musculação do bolso dele. Fez tudo. Então eu tremia da cabeça aos pés.

Terra - Jogador é obrigado a dar entrevistas?
Brum - Nada forçado é legal, mas o torcedor merece saber como o jogador se expressa. Tem torcedor que deixa de comer para comprar ingresso, então eles merecem, mas não pode ser forçado. Eu trabalhei com um jogador que antes cortava cana, o Lima, ex-Coritiba e Atlético-PR. Ele chorava, era sensível. Depois entendemos que isso era por ele ser tímido. Hoje ele está soltinho (risos).

Terra - Você está bem em Santos, né?
Brum - Se for a vontade de Deus, encerro minha carreira aqui. Estou super adaptado na cidade, já tenho casa, sou cidadão santista. Só falta transferir o título de eleitor para votar no Ari Jarrão (massagista do Santos e candidato a vereador). Nem ele votou nele, foram só três votos. Vou ser o cabo eleitoral dele, já tem slogan: "Ari Jarrão, chegou a solução, pro empregado e pro patrão". É melhor que o do Maluf, o "rouba mas faz" (gargalhada).

Terra - Como é a história do morador de rua que você acolheu?
Brum - É o Pato Rouco, uma figura carimbada na Vila Belmiro. Todo mundo o conhece, já estava mais de 30 anos perambulando no vício e agora também morando na rua. Ele me pedia dinheiro e eu respondia que não ia dar nada para ele usar crack, então ele me xingava. Sempre falei que daria um tratamento, se ele quisesse.
Aí um dia fui andando do treino pra casa e ele foi me seguindo. Então parei e fiz uma oração para Deus transformá-lo. E ele começou a chorar, falando que tinha saudades da mãe. No fim do ano, ele me pediu ajuda.

Terra - E então, o que aconteceu?
Brum - Aí eu e o Fabiano Eller o internamos. Ele gosta de ajudar, tem o coração muito bom. Então fomos na casa do Pato Rouco, no carrão do Eller, que parece um disco voador (risos) e pedimos a autorização da mãe dele. Hoje ele está lá há seis meses: enxerga bem, está com os dentes bonitos, com óculos, está gordo, lê a bíblia. Era fedorento e hoje está cheiroso (risos).

Terra - Você já tentou apaziguar um pouco o Fábio Costa?
Brum - O Fábio é uma pessoa muito especial para mim. Quando o olhei pela primeira vez, fiquei com medo daquela cara de bravo dele. Uma vez tentei trazer ele pra Deus, mas parecia que tinha falado com um armário. Ele nem ligou. Mas ele começou a olhar minha vida e um dia o filho dele pediu para que eu fosse até a casa dele pra falar de Deus. E nós não podemos julgar as pessoas.

Quero que a pessoa que estiver lendo essa matéria no Terra, aponte o dedo para o espelho. Ele vai ver que tem mais quatro apontados para ele. Deus tem mudado o caráter do Fábio e ele está mudando.

Roberto Brum se diz uma pessoa caseira, de vida pacata. Logo, um de seus hábitos prediletos é a culinária. Quando jogou em Portugal, por Academica de Coimbra e Braga, aprendeu a fazer pratos especiais, os quais até convidou a reportagem do Terra para experimentar: o Bacalhau com batatas ao murro e sobremesa intitulada Baba de Camelo.

A vida tranquila e os bons hábitos têm rendido frutos para Roberto Brum, que surgiu nas categorias de base do Fluminense e apareceu nos profissionais para jogar a Série C, em 1999. Depois, marcou seu nome no Coritiba e nos dois clubes portugueses, até chegar ao Santos em 2008.
Confira a segunda parte da entrevista com Roberto Brum:

Terra - Desde quando você passou a ser evangélico?
Brum - Foi em 2002, no Coritiba. Eu não dava ouvidos, achava evangélico um povo chato.

Terra - Você era muito amigo do Roger nos juvenis do Fluminense. Aprontaram muito nessa época?
Brum - Aprontávamos muito (gargalhada). Nós fugíamos de concentração para ir para bagunça, arrumar namorada. Tem uma história muito boa, mas não posso contar, agora ele é casado (risos). Quando eu jogar no mesmo clube que ele, ponho aqui para dar entrevista coletiva e faço ele contar.
Nós éramos jovens, a gente tinha muitas namoradas. Nossa onda era essa. Não era usar droga, era arrumar namorada. Uma vez, chamei o Roger para ir até o carnaval em São Gonçalo, ele quase morreu (risos). Só tinha o bloco das piranhas, era pacato demais.

Terra - Além de vocês dois, quem mais fazia parte dessa turma?
Brum - Tinha o Marco Brito, atacante que jogou no Vasco também, o Bruno Reis, o Flávio, lateral direito que também esteve no Santos...

Terra - O Roger podia ter se tornado um jogador melhor?
Brum - Poderia, sim. Ele faz poucos treinamentos específicos, porque não precisa. Eu nunca vi um jogador com a habilidade dele, mas o futebol hoje exige muito físico. O pai dele, seu Aloísio, falava para mim, que se o Roger tivesse a disposição que eu tenho, ia ser o maior jogador do mundo. E eu respondia que se tivesse a habilidade do filho dele também (risos)...

Terra - Você não é mais nenhum garoto, mas tem o melhor condicionamento físico do clube. Como explicar isso?
Brum - Deus vai renovando, fazendo você melhorar. Lembro do César Sampaio, que começou a surpreender fisicamente depois dos 30 anos. O jogador maduro rende mais que um jogador mais verde. E aí o jogador mais verde, pelo físico, supera também a experiência. Faz o movimento errado, mas se recupera. O maduro vai cortando os caminhos e se você tem maturidade e força física, vai superar os outros.
No meu caso, é explicado por uma vida regrada. E hoje os clubes têm profissionais que incentivam o atleta e dão instrução. Tem hoje a fisiologia e é brincadeira o trabalho que o doutor Rogério, que faz um trabalho de hidratação com os atletas do Santos que nunca vi igual na carreira. Tá sempre com um copinho correndo atrás dos atletas (risos).
Aquele boleirão que anda de ponta de pé no shopping, de perna arcada, tá perdendo espaço hoje. Tenho oito horas de sono, não bebo, mas também não tenho nada contra quem bebe. Tem que chegar em campo e correr. Prefiro jogar com o cara que bebe e vai para a noite e corre em campo, do que com um santinho que não faz nada e não faz nada em campo também. Mas gosto de falar para ser exemplo pros mais jovens.

Terra - Foi muito duro jogar aquela Série C em 1999?
Brum - Demais. Outro dia, eu estava indo para Itaipava, no casamento do Roger, e era o mesmo caminho de Xerém (onde ficam as categorias de base do Fluminense). E eu falava para minha esposa: "valoriza cada real, quando você tiver no shopping, vendo aquela vitrine bonita, e pensa duas vezes antes de cobrar aquela bolsa da Guess" (risos). Foram seis anos indo todos os dias para Xerém e quando subi para os profissionais, encarei uma Série C de frente. Foram muitas lutas, mas tive muitas vitórias. Nada foi de mão beijada.

Terra - Os jogos eram muito violentos?
Brum - Hoje só jogo em tapete, mas tomei até pedrada, contra o Juventus. Teve outro jogo com confusão contra o Moto Clube, dureza. Uma vez, estávamos indo jogar e um carro caiu na Serra, numa ribanceira. Vi atletas apanharem. Vi mãe e pai de atleta apanharem. Do Jorge Luís, lateral esquerdo que jogou no Inter e em Portugal. Vi muita coisa brava.
Recebi homenagem, que foi quando plantaram um pé de laranjeira e me incluíram lá. Eles colocavam uma placa em cada laranjeira que plantaram, com os nomes dos jogadores: Branco, Rivellino, Roger, entre outros.
Aí depois fui mostrar a placa para o meu irmãozinho. Fui subindo a rua e quando fui vendo, minha placa não estava mais lá. Aí cheguei para o Betão, administrador do centro de treinamento, e perguntei: "Cadê minha placa?". E ele respondeu que quem colocou o clube na Justiça, perdeu a placa. Então fica sem placa (risos).

Terra - O Branco até "confiscou" a renda da final da Libertadores, você viu?
Brum - É, eu vi. Não deixou nada pra mim. (gargalhada).

Terra

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