27 junho 2009

SÁBADO- MODA - O HOMEM BRASILEIRO SE VESTE MAL. MAS HÁ SALVAÇÃO

Olhe ao seu redor e conte quantos homens vestem camisas xadrezes e listradas. Verá que são muitos, se não forem maioria. Depois repare nos que usam tons mais quentes, como laranja, vermelho ou cores ditas femininas, como rosa. Serão raros. Mais raros ainda são os arrojados que investem em algum modelo da moda ou em um terno bem cortado ou uma camisa ou calça com um detalhe cool.

Se o mais famoso evento de moda o Fashion Week lança tendências para a moda feminina e causa furor nas mulheres, o mesmo não acontece com a ala masculina. Por quê? Por que os homens brasileiros pouco importam se estão bem vestidos, mesmo sendo considerados vaidosos? E não é apenas a vestimenta adulta que está longe de ser moderna. Tenho dois meninos e me deparo com uma imensa dificuldade em comprar roupinhas para eles que saem desse padrão xadrez-listras-estampas com dizeres em inglês.

Fui atrás de um dos mais conhecidos consultores de moda masculina do Brasil para entender as razões do nosso homem ainda não estar antenado com as novidades que acontecem lá fora. Sylvain Justum, um franco-brasileiro, consultor da revista Vogue, diz que isso já melhorou muito e dá algumas dicas de como o brasileiro pode se vestir melhor. Ele também chama a atenção das grifes para apostar mais na ousadia.

Mulher 7X7 - Por que o brasileiro se veste ainda de maneira muito tradicional?
Sylvain Justum -
O homem maduro tem que se conformar com o terno e a gravata. Para isso mudar, alguém tem que dar o primeiro passo e nesse caso são as grifes e os formadores de opinião. O consumidor tem que ser educado.

Mulher 7X7 - Alguns estilistas afirmam que não adianta produzir peças arrojadas masculinas se não há mercado consumidor.
Justum -
Se a grife ficar acomodada, com esse velho discurso, e se os editoriais de moda só falarem de terno e gravata, sem apresentar modelagens diferentes, fica difícil haver evolução. No Fashion Week até vemos ousadia. Mas o mesmo não acontece com as marcas comerciais, as clássicas, como a VR, Brooksfield, a Crawford.

Mulher 7×7- Por que a preferência pelo xadrez e listra?
Justum -
O xadrez e as listras são padrões europeus internacionais há tempos adotados pelos homens. É uma tradição. No Brasil, ainda estamos muito atrasados em relação à Europa. Temos apenas 15 anos de profissionalização da moda. Os europeus também são muito mais abertos para aceitar tendências. Não tem essa coisa de achar que rosa é cor de gay. Aqui existe a questão cultural do machismo.

Mulher 7 x 7 - Qual a tendência da moda masculina hoje?
Justum -
São calças de gancho baixo, paletós secos e curtos. E também misturar o street wear com a alfaiataria. Um bom paletó curto com um jeans claro de gancho baixo. Para quem quer ousar mais o Cavalera traz cores fortes, como o vermelho. Isso tudo depende do estilo da pessoa. O homem tem que se olhar no espelho, e perceber que aquela roupa é para ele. As calças skinny também trazem elegância. As tendências dão as direções e o que você faz com elas é uma obra pessoal. Existem muitas maneiras de ser elegante.

Mulher 7×7 - A mulher ainda influencia o homem no modo de se vestir?
Justum -
Cada vez menos. O homem já entendeu que pode se cuidar sozinho e está perdendo a vergonha de gostar de moda. Está mais seguro e aos poucos está fazendo seu estilo.

Mulher 7×7 - Os estilistas fazem uma moda masculina mais adolescente?
Justum -
Nas passarelas a moda é mais jovem mesmo. E não dá para cobrar de marcas jovens que façam uma moda adulta. Alguns estilistas como o Alexandre Herchcovitch transitam nos dois mundos.

Mulher 7×7- Que homens brasileiros se vestem bem?
Justum -
Tá difícil. Rodrigo Santoro é um deles. No showbusiness é mais difícil de ver homem bem vestido. Na televisão, é o lugar onde eles se vestem pior. Os que se vestem bem são empresários, publicitários, advogados, profissionais liberais.

Mulher 7×7- Quais são seus estilistas preferidos?
Justum -
Raf Simon, Christopher Bailey, da Burberry’s, Rick Owens e Stephano Pilati, da Yves.

Kátia Melo - Época

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