29 agosto 2009

O futuro do YouTube



Nesta semana, Chad Hurley, de 32 anos, um dos criadores do You Tube esteve no Brasil e falou a VEJA sobre o futuro do maior site de vídeos da web, criado em 2005.

Seu desafio consiste em manter - e fazer crescer - uma plataforma eletrônica que já atingiu proporções gigantescas.
A cada dia, o YouTube recebe 365 000 novos filmes. São vinte horas de imagens por minuto.
E nenhum deles é jogado fora. Por isso, os arquivos da empresa armazenam mais de 500 terabytes de imagens, o equivalente a 50 vezes o conteúdo da biblioteca do Congresso americano, a maior do planeta.
Em um mês, o site recebe 400 milhões de visitantes. Um negócio desse tipo exige investimentos permanentes em infraestrutura.

Em busca da sobrevivência, Chad e seu sócio, Steve Chen, venderam o YouTube para o Google em 2006, por 1,65 bilhão de dólares.
À época, cada um embolsou mais de 300 milhões de dólares e o restante foi dividido entre outros investidores. Ambos poderiam se aposentar, mas continuaram à frente do projeto.

"Na verdade, minha rotina nem mudou muito. Continuo trabalhando bastante. Ainda temos muitas coisas para descobrir", diz Hurley.

A seguir, a entrevista que ele concedeu a VEJA.
Como surgiu a ideia de criar o YouTube?
Steve Chen, que fundou o YouTube comigo, estava numa festa. Fez vários vídeos com sua câmera e queria mandá-los para seus amigos. Mas era difícil fazer isso. Eu morava na Califórnia e também queria mandar alguns filmes para os meus pais, na Pensilvânia, do outro lado do país. O problema era o mesmo. Foi essa necessidade que nos fez criar o YouTube. Na verdade, foi dessa forma que percebemos a oportunidade de construir uma ferramenta eletrônica, um espaço onde as pessoas pudessem compartilhar vídeos. Acho que, como dizem, estávamos no lugar certo, na hora certa.

Qual a razão do sucesso do site?
Acredito que tomamos algumas decisões que fizeram a diferença. Desde o início, aceitamos todo o tipo de conteúdo. Não havia restrição. Tudo era aberto. Isso funcionou. As pessoas entravam no site e não precisavam responder a questionários chatos. Usamos uma tecnologia, chamada Flash, que reduz a qualidade dos vídeos, mas, em contrapartida, permite que eles sejam baixados rapidamente na internet. Isso reduziu a longa espera pelos downloads. Outro ponto positivo: nenhum usuário precisava se preocupar com tecnicidades, como o formato dos vídeos. A simplicidade era a chave de tudo. Conseguimos ainda montar um grande ecossistema, com comunidades que trocavam imagens. Com a formação e expansão desses grupos, nos distanciamos da concorrência.

Quanto custa manter o YouTube?
Custa... [ele olha para os assessores] Calma, é brincadeira. Não posso revelar esse número. Mas posso dizer que há muita especulação sobre esses dados. Todas são exageradas. Além do mais, o mercado de anunciantes cresce, enquanto caem os gastos com a tecnologia usada no processamento e armazenamento das informações.

A euforia em torno de alguns sites, como redes sociais, tende a diminuir. Com o passar do tempo, eles se tornam chatos. O YouTube corre esse risco?
Acho que isso não acontece com o consumo de vídeos. As pessoas sempre querem ver uma imagem interessante e ouvir boas histórias. Em redes como o Twitter ou o Facebook a atividade é diferente. Ela depende muito mais da participação ativa e permanente das pessoas. O que cansa nesses sites é ter de tomar parte dessas interações o tempo todo. Acredito que o acesso ao conteúdo do YouTube é mais simples e fácil.

Qual o futuro do YouTube?
O YouTube é uma plataforma tecnológica feita para a exposição de vídeos. Todos podem usá-la. Agora, boa parte do nosso trabalho é fazer com que possa ser acessada com eficiência por qualquer aparelho: um computador, uma TV ou um celular. Como as pessoas usam cada vez mais os telefones móveis para entrar na internet, estamos aprimorando nossa tecnologia para acessos por redes sem fio. Mas as melhores ferramentas que podemos desenvolver são aquelas que descobrem quais tipos de vídeo uma determinada pessoa está buscando quando entra no site. Temos de ir além dos mecanismos tradicionais de busca e descobrir com crescente precisão o que os usuários querem. É isso que nos permite fazer sugestões pertinentes de vídeo. Já temos esse tipo de ferramenta, mas vamos avançar nessa área. De um modo geral, o YouTube precisa se tornar mais inteligente. Esse é um problema e um desafio comum a qualquer site que lide com uma grande quantidade de dados.

E como se faz isso?
Temos de descobrir como as pessoas encontram as informações que querem dentro do site. Precisamos ainda organizar o conteúdo por tipos distintos, permitindo que alguém navegue, por exemplo, apenas em vídeos educacionais. Também estamos tentando integrar mais o YouTube a redes sociais como o Twitter e o Facebook. Queremos que os participantes dessas redes saibam o que os seus amigos estão vendo no YouTube. Em breve, esse serviço deve estar disponível no Orkut. Outra meta é aprimorar o fluxo de informações dentro do site. As pessoas vão poder indicar para as outras, por meio de notificações [os feeds], quando assistem a um vídeo ou assinam um novo canal de conteúdo.

O YouTube foi vendido por 1,6 bilhão de dólares. Seu quinhão foi de 345 milhões de dólares. Sua vida mudou muito?
Não muito. Ainda trabalho bastante. Com esse dinheiro deveria estar no Rio de Janeiro me divertindo [a entrevista foi concedida em São Paulo]. Claro que nunca imaginei que ganharia tanto com o site. É possível almejar um grande futuro para o que criamos, mas não dá para esperar por isso. Mas ainda estamos no começo. Criamos um novo mercado de vídeos on-line. Todos querem respostas e soluções para alguns problemas e nós também. Isso é interessante.

Você tem dois filhos, controla o que eles assistem no YouTube?
Claro. Assim como na televisão, ninguém deixa as crianças assistirem o que querem na internet. A melhor coisa a fazer é ensinar os filhos a acessar a rede de forma responsável. Mesmo porque não é possível controlar tudo. Hoje, as crianças entram na web usando celulares que estão em seus bolsos.

Por falar em televisão, o YouTube vai matá-la?
Não. A experiência de reunir a família e os amigos para assistir à televisão vai sobreviver. O aparelho continuará no centro da sala das casas. O que mudará é a maneira como acessaremos o conteúdo. Nos próximos cinco ou dez anos, teremos uma experiência mais interativa e sob demanda. Vamos ter recursos novos para escolher o que assistir. A transmissão linear de imagens como conhecemos hoje é que vai acabar. Isso não que dizer que os programas desaparecerão. As pessoas irão atrás das histórias interessantes. Mas o conteúdo da televisão será mais parecido com o próprio telespectador, mais customizado.

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