25 agosto 2009

A Revolução Invisível

Em psicanálise, quando tratamos de um paciente que não consegue perceber um problema, visível aos nossos olhos e, muitas vezes, visível à maioria das pessoas que o cercam, dizemos que tal paciente está egosintônico com o seu problema.

Nesse caso, temos que, antes de mais nada, trabalhar para que o paciente se torne egodistônico em relação a tal problema, para que possa passar a percebê-lo e seguir avante com o tratamento.

Essa situação ilustra muito bem a terrível revolução de valores que esta geração está atravessando sem perceber, simplesmente porque, embora a vivencie em toda a sua plenitude, não consegue enxergá-la, porque ela lhe é egosintônica, portanto, invisível.

COMO ESSA REVOLUÇÃO SE MANIFESTA?

Ela se manifesta através de uma crise que, em linhas gerais, apresenta os seguintes sintomas:

1. Inversão de Valores

Percebe-se nitidamente, na geração contemporânea, uma inversão de valores, em relação ao que ocorria há algumas décadas. O que era errado passou a ser certo e o que era certo passou a ser errado.

O que não se tolerava quando os pais de agora eram filhos adolescentes, é defendido agora como bandeira libertária, por esses mesmos pais, em relação a seus filhos, hoje adolescentes.

2. Quebra de Padrões Dicotômicos

Antes, tínhamos bem delineado o que era bom e o que era mau; o que era ético e o que era não-ético; o que era o bem e o que era o mal.

Hoje, existe uma ambivalência generalizada sem os referenciais antes existentes. Até mesmo as novelas de televisão e os filmes que são sucesso em Hollywood que, anteriormente, tinham bem definidos a figura do herói e do vilão, atualmente já não apresentam essa mesma dualidade.

Tanto o herói de hoje tem facetas de vilão; quanto o vilão de hoje tem características de herói. O bem e o mal foram amalgamados, formando um composto ambivalente, que constitui não apenas a casca, mas também a essência das pessoas.

3. Banalização da Vida

Antes, tinha-se mais respeito à vida. Hoje esse respeito banalizou-se, não somente nas clínicas de "aborteiros" e nas guerras entre gangues rivais de traficantes, mas também no quotidiano das pessoas comuns.

O desrespeito e a transgressão vulgarizaram-se ainda mais. Se fizermos uma pesquisa numa classe universitária, por exemplo, com a finalidade de sabermos quantas pessoas foram assaltadas, 80% ou mais levantarão a mão.

Mas o que foi roubado dessas pessoas não são apenas jóias ou grandes somas de dinheiro. Hoje, celulares, tênis, blusas, sapatos e até mesmo passes de ônibus ou metrô fazem parte desse repertório. E tudo isso é visto como "normal".

4. Visão de Mundo Como Projeção do "Si-Mesmo"

Antes, as cosmovisões ou "visões-de-mundo", diferentes para cada povo, cultura, sociedade ou segmentos das sociedades eram filosoficamente estudados, sabidos e respeitados.

Hoje, impera a lei do egoísmo e do egocentrismo. As pessoas enxergam o mundo como "um grande depósito de toda sorte de produtos", à disposição de seu desejo de consumo.

Em outras palavras, cada pessoa vê o mundo como uma grande projeção de si própria e julga-se no direito do "desfrute" total e irrestrito dele. Perdeu-se o espaço antes destinado à liberalidade e à compaixão pelo próximo.

CONCLUSÃO: AUSÊNCIA DE DEUS E VAZIO EXISTENCIAL

Cedo ou tarde, toda pessoa que vivencia uma revolução dessa magnitude, descobre que não é possível passar incólume pelas leis de natureza espiritual e psicológica.

Já vimos, em postagem anterior neste blog, que o sentimento moral (e por via de consequência, religioso) não foi dado por Moisés, no Monte Sinai. Ele já nasce com cada ser humano, constituindo parte importantíssima de sua psiquê.

É por essa razão que o homem não pode desprezar valores multimilenarmente acumulados, impunemente.

A célebre frase de Nietzsche de que "Deus está morto" nunca foi tão verdadeira quanto está sendo para a presente geração.

Cada homem ou cada mulher que eliminou Deus de sua agenda egoísta e materialista, implementando assim, a sua revolução invisível, paga por isso um preço incomum de frustração e de sofrimento.

Embalados pela falsa idéia de que são "livres" de regras ou de valores, são, na verdade, apesar de todo "desfrute", infelizes criaturas, sem Deus, imersas num imenso vazio existencial.

"Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!" (Isa. 5.20).

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