02 dezembro 2009

Luiz Fernando Prôa viu a vida virar de cabeça para baixo quando o filho Bruno, viciado em crack, assassinou uma jovem

O escritor Luiz Fernando Prôa viu a vida virar de cabeça para baixo quando o filho Bruno, viciado em crack, assassinou Bárbara Calazans, uma jovem de 18 anos, no final de outubro, no Rio de Janeiro. Ao ser avisado pelo próprio filho do crime, chamou a polícia. A partir daí, seus dias jamais foram os mesmos. Agora, está envolvido numa luta para evitar que outros pais passem pelo que está passando. E pede atenção para todos os vícios, mesmo os que possam parecer menos nocivos: “O álcool é a principal porta de entrada para as drogas.”

1 – O senhor tem consciência de que se transformou numa bandeira de luta para milhares de pais que enfrentam o mesmo tipo de problema?
Tenho, e isso me assusta, já que não calculo a dimensão desta coisa. Sou uma pessoa comum. Estou acostumado à solidão de meu trabalho como escritor e promotor de cultura na internet. Às vezes, circulo em eventos poéticos e artísticos, mas a maior parte do tempo não. Meu assombro cresce quando vejo que, não só as famílias com problemas com drogas, mas uma legião de indignados com tanta falta de paz e humanidade, se identifica com as questões que estou levantando.
2 – O que mudou na sua vida desde o episódio com seu filho?
Tudo.

3 – Que conselho você daria a pais que vivem a mesma situação?
Que lutem por seus filhos, não só em casa, mas pressionando as autoridades para que ajam rápido e mudem este estado de coisas. É como o slogan dito pelo Projeto Zap, da internet: “Dizer não às drogas... não basta!”, temos que fazer muito mais se queremos minimizar o estrago que elas produzem.

4 – De acordo com a lei, a internação para o usuário de drogas depende da própria vontade do viciado. Um projeto no Congresso propõe a obrigatoriedade do tratamento. O que o senhor acha?
Quem não se droga neste País? Garanto que não são poucos. Não são só as drogas ilegais que são drogas. As bebidas alcoólicas, apesar de legais, fazem parte da mesma categoria. É preciso internar contra a vontade todo dependente químico que perdeu os limites, contanto que haja qualidade no atendimento e critério para evitar abusos. Mas temos que ir mais longe, já que o álcool é a principal porta de entrada para o mundo das drogas. É preciso pôr fim em toda propaganda de bebidas alcoólicas, em qualquer meio. Colocar advertências educativas nos rótulos dessas bebidas sobre os prejuízos que podem causar à saúde, assim como se faz nos maços de cigarros. Abrir a discussão sobre o aumento da idade permitida para o consumo de bebidas para 21 anos, como já acontece em outros países, e com fiscalização eficiente.
5 – Já foi procurado por alguma autoridade para discutir algumas dessas sugestões?
Não. Estou mais preocupado com que meu grito seja ampliado, com que mais gente passe a opinar e ser ouvida. Como disse, sou apenas um cidadão comum e não o dono da verdade. Nossa sociedade precisa discutir suas questões, participar ativamente na condução de nossos destinos, pressionar por seus direitos e não deixar tudo na mão de políticos, de grandes empresários e sindicatos.

6 – Como uma família pode evitar que seus filhos mergulhem no mundo das drogas?
O primeiro passo é ficar de olho nas bebidas alcoólicas. Elas rolam em festinhas de criança, nos churrascos em família, entre os amigos da escola, nas baladas e bares. Com isso, usando uma droga pesada, como é a bebida alcoólica, eles se acostumam com o estado de embriaguez, euforia e desinibição que ela provoca, o que os
aproxima de outras experimentações. O segundo, é educar. Mostrar o estrago que essa droga provoca. É só dar uma passadinha na “cracolândia” de sua região para ver o efeito devastador que o crack provoca. O caso de meu filho é bem educativo, uma pessoa boa, educada, carinhosa e que chegou ao fundo do poço e à cadeia. Um caso de saúde pública que virou um caso de polícia.

7 – O senhor acha que cabe prioritariamente ao Governo Federal a tarefa de combater a entrada de drogas?
Sim. Mas o problema maior não são as drogas, elas são apenas uma ponta do iceberg, e afiada. As armas que entram fazem muito mais estrago.

8 – A religião, de alguma forma, pode ajudar a resolver o problema das drogas?
A religião não vai resolver o problema das drogas, mas com certeza pode contribuir, e muito. Contudo, a situação é mais complexa, e muitos que vivem esse problema não querem nem ouvir falar em Deus, o que é lamentável.

9 – O Governo prometeu medidas concretas para ampliar o atendimento aos usuários de drogas. O senhor acredita que isso vai acontecer?
Já estamos acostumados com isso. Estoura uma bomba, chegam os bombeiros e ficamos aguardando o próximo incêndio. Já cansamos de ver soluções paliativas e maquiadoras que não resolvem os problemas. Não quero prejulgar as boas intenções que às vezes aparecem, mas vemos que as ações são sempre menores que os problemas a enfrentar.

10 – O que se pode fazer com meninos de rua já mergulhados no vício?
Invest
imento pesado e educação. Um povo instruído tem melhores condições sociais e pode controlar melhor seu crescimento em número. Não adianta construirmos dez hospitais se daqui a 5 anos vamos precisar de 30, construir 30 se daqui a 10 anos vamos precisar de 90. É preciso arregaçar as mangas e ter fé em um futuro melhor.

F.universal

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