21 janeiro 2010

HAITI, A FÉ QUE SURGE DOS ESCOMBROS

Por Hermes Fernandes

Muita coisa tem sido dita nestes últimos dias acerca do cataclismo que abateu o Haiti.
A ONU afima ser a maior catástrofe da história. Será que se esqueceram a tsunami?
E de tantos outros terremotos que têm acometido o mundo nos últimos anos?

O que torna a tragédia do Haiti mais importante em termos de repercussão é sua proximidade com o resto do Ocidente.
A tsunami aconteceu lá do outro lado do mundo.
Mas o Haiti parece um aviso de que coisas ruins também acontecem aqui no nosso quintal.
Miami está logo ali!

Como cristãos, qual deveria ser nossa reação diante de uma tragédia desta magnitude?

Alguns preferem buscar explicações teológicas.
Alguns crêem que tenha sido juízo de Deus, por causa de um pacto feito entre aquela nação e o diabo, quando lutava por sua independência da França no século VIII.
Outros atribuem ao próprio diabo, como se este tivesse poder sobre as forças naturais.
Há também a turma do Open Theism [Teísmo Aberto], que aproveita a situação para reafirmar e propagar sua crença de que Deus não interfere na história, e nem ao menos conheçe o seu desfecho. Tem também os que aproveitam para linkar o acontecimento à proximidade da volta de Jesus, catalogando-o como sinal dos tempos.

Enquanto os teólogos de plantão discutem, cristãos comuns arregaçam as mangas no afã de minimizar o sofrimento das vítimas.

O livro de Atos registra um terremoto ocorrido na cidade de Filipos, onde Paulo e Silas estavam encerrados na prisão.
O abalo foi de tal magnitude que rompeu as grades, deixando todos os presos potencialmente livres. O carcereiro, desesperado, quis suicidar-se, mas foi impedido por Paulo, que garantiu-lhe que nenhum dos presos fugiria.
Para a surpresa deles, o suicida perguntou-lhes: Que farei para ser salvo?

Ora, Paulo poderia ter entendido que aquele terremoto era juízo de Deus sobre os que o haviam preso injustamente.
Ou poderia acreditar que tudo tinha acontecido para que ele fosse livre daqueles grilhões.
Porém, Paulo não entendia os acontecimento partindo de seu próprio umbigo.
É claro que ele não acreditava em acidentes.
Havia um propósito naquilo tudo.

Em vez de aproveitar para fugir, Paulo se volta para aquele homem desesperado, e lhe diz: "Crê no Senhor Jesus Cristo e será salvo tu e a tua casa".

Que bom seria se a igreja contemporânea deixasse de discutir a razão das tragédias naturais, e aproveitasse o ensejo para levar uma palavra de conforto e salvação às vítimas.
E não só palavras, mas também ações.

Não nos compete julgar, nem atribuir culpa a quem quer que seja.
Nossa única atribuição é revelar a face amorosa do nosso Deus, que Se importa com a dor de suas criaturas.

Imagine se Paulo tivesse a postura de muitos cristãos de hoje em dia.
Ele certamente deixaria que o carcereiro cumprisse seu intento, e ainda chegaria na igreja dando testemunho da vitória.
Que vergonha! A mensagem pregada em nossos púlpitos tem produzido gente assim, que em vez de encarar a realidade, prefere fugir dela, com explicações mirabolantes que apaziguem suas consciências, em vez de aguçá-las em favor do seu semelhante.

Deus está dispensando advogados! Mas também não Se importa com Seus detratores.

Voltemos-nos para a realidade, e trabalhemos para transformá-la.

Ironicamente, o mesmo carcereiro que lhe fizera as feridas nas costas, levou-o para sua casa e as tratou.
Daquele terremoto nasceu a igreja para a qual Paulo destinou uma de suas mais brilhantes epístolas: Aos Filipenses.

Dos escombros deste terremoto no Haiti surja uma igreja vibrante, cheia de vida e desejosa de mudar o mundo.
Dos escombros de nossas certezas teológicas, possa emergir uma igreja voltada para fora em busca de soluções, em vez de explicações.

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