27 janeiro 2010

Por Que Pessoas Deprimidas Preferem Pensar Que Não Têm Depressão?

A velha e conhecida história nos ensina que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Isso é muito verdadeiro em relação à depressão e, por essa razão, vale a pena perguntar por que motivos, pessoas que sofrem terrivelmente de um distúrbio de humor tão grave como a doença depressiva, recusam-se, muitas vezes, a ir em busca de ajuda.

Vejamos algumas possíveis respostas:

1. O Preconceito
Apesar de estarmos já no terceiro milênio, com todos os avanços da educação, da medicina, da farmacologia e das neurociências, estranhamente, observamos que prevalece ainda um forte preconceito, mesmo por parte dos pacientes, contra a doença chamada depressão.
Esse preconceito é um dos principais motivos pelos quais os profissionais de saúde são por eles evitados.

2. Temor de Serem Consideradas Anormais

É óbvio que, o que ocorre com as demais doenças consideradas psicogênicas ou psiquiátricas, também a depressão é erroneamente considerada por alguns, como algo que foge da normalidade.

Daí o procurar-se evitar a qualquer custo o tratamento, ou adiar o quanto for possível, uma consulta com um psiquiatra, o que seria a primeira providência a ser tomada.

Tentar educar essas pessoas e alertá-las para o fato do risco que correm, caso continuem a agir assim, é uma tarefa não apenas dos profissionais de saúde, mas de todas as pessoas esclarecidas da sociedade.
3. Convicção de Que Estão Apenas Tristes

Como o leitor com certeza deve saber, a psicanálise descobriu que quando uma pessoa não quer ou é incapaz de aceitar algo que para o seu ego é por demais dolorido, ela se utiliza, para se proteger, de um ou de vários mecanismos de defesa, especialmente estudados por Anna Freud, filha de Sigmund Freud.

No caso da doença depressiva, elas, inconscientemente, fazem uso de mecanismos de defesa conhecidos como racionalização e negação, procurando ficar convictas de que, o que estão sentindo é apenas uma tristeza mais intensa, que passará com o correr das horas ou dos dias.
Infelizmente, isso raramente acontece, mas mesmo assim, em alguns casos, a convicção permanece.

4. Desconhecimento de Que Se Sofre de Doença Depressiva

Embora possa parecer estranho, a realidade é que, em certos casos, o indivíduo não busca tratamento psiquiátrico ou psicoterapêutico, não por que tenha medo ou preconceito, mas sim porque desconhece a sua condição de deprimido.

Isso normalmente acontece quando a pessoa sofre da chamada depressão secundária ou, se preferir, depressão mascarada.

Nesses casos, a doença depressiva não é primária, ou seja, não consiste no motivo principal das queixas, mas aparece como um quadro secundário, em relação a uma outra doença, normalmente física – considerada principal, ou em relação ao abuso do álcool ou a dependência de drogas.

Nessas condições, a depressão pode não ficar evidente ou não ser considerada como a queixa principal pelo médico psiquiatra e nem é percebida pelo paciente como um distúrbio isolado.

5. Medo de Ficar Viciado em Remédios

Essa causa realmente chega a ser surpreendente, mas, infelizmente, ela existe e possui uma força incomum: Algumas pessoas têm um medo mórbido de se tratarem, principalmente, pelo médico psiquiatra, porque temem ficar viciadas em remédios (psicofármacos).

Evidentemente, esse medo não tem razão de ser primeiramente porque, se elas sofrem de doença depressiva, precisam, de qualquer forma, tomarem os medicamentos prescritos, para ficarem curadas ou, no mínimo, terem uma qualidade de vida melhor.

Em segundo lugar, o temor também não se justifica porque, na maioria dos casos, ao contrário de outras categorias de medicamentos de ação central, como os ansiolíticos (calmantes), por exemplo, os antidepressivos não causam dependência.

Essas pessoas precisam ser orientadas para que deixem para trás a falsa crendice de que psicofármaco é, como dizem alguns, uma muleta psicológica, da qual devem ficar livres a qualquer custo (mesmo que esse custo seja uma péssima qualidade de vida!).

Elas precisam ser esclarecidas de que, assim como os diabéticos têm de tomar diariamente a sua insulina e os hipertensos têm de tomar diariamente o seu anti-hipertensivo; da mesma forma, os que sofrem de depressão precisam tomar o seu antidepressivo a fim de que vivam de uma maneira mais saudável.

Quando elas ficam sabendo sobre os tempos em que o único tratamento disponível para a doença depressiva era a eletroconvulsoterapia; ou sobre os terríveis efeitos colaterais dos primeiros antidepressivos, muitas acabam considerando uma verdadeira bênção poderem contar com os modernos psicofármacos.

6. Emoções e Pensamentos Distorcidos

Na verdade, esse é um motivo que advém da própria circunstância de se estar sofrendo de depressão. Isso porque a doença depressiva exerce um poderoso efeito que afeta os pensamentos e as emoções.

O indivíduo passa a ter pensamentos negativos e a se sentir incapaz de ajudar-se a si mesmo, pois, se a doença for severa, sua auto-estima praticamente deixa de existir.

Mais do que todos,esse tipo de paciente, em especial, precisa do apoio incondicional, da compreensão e do carinho de seus familiares e amigos próximos, a fim de que, com a ajuda deles, seja convencido a procurar um profissional de saúde mental.

3. Acreditar Apenas Na Força de Vontade

Finalizamos esta relação de itens que relatam fatores que impedem pessoas deprimidas de buscarem tratamento adequado, comentando sobre o aspecto força de vontade.

Algumas pessoas, apesar de depressivas, são extremamente contumazes e acreditam piamente que apenas a força de vontade fará com que fiquem curadas.

É bem verdade que a doença depressiva, quando não tratada, em alguns casos, pode melhorar, mas isso pode levar muito tempo, durante o qual, intenso sofrimento poderia ser evitado.

É preciso que elas entendam que, se fosse possível abolir a depressão simplesmente pela força de vontade, isso já teria acontecido há muito.
Mas, o que ocorre é o contrário, pois, a exemplo de qualquer outra, a doença depressiva cria raízes e fica mais difícil de ser tratada com o passar do tempo, piorando enormemente o prognóstico.

Essas pessoas precisam conscientizar-se de que, quanto antes procurarem ajuda profissional, muito maiores ficam as suas chances de uma recuperação completa.

E precisam também jogar na lata de lixo o mito de que força de vontade cura depressão, pois isso não passa de uma mentira que elas aplicam em si mesmas, prejudicando-se enormemente com tal forma de pensar.

Tony Ayres/psicoterapeutacristao.blogspot

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