26 março 2010

Entenda o vício sexual de Tiger Woods

Médicos explicam o impulso sexual excessivo que contribuiu para que o jogador de golfe prejudicasse a carreira e ficasse internado em uma clínica de reabilitação.

Gostar de sexo é unanimidade.
Mas a compulsão por ele está além de sentir muito prazer.
O impulso sexual excessivo é uma doença - classificada pela Organização Mundial de Saúde - e envolve sintomas e conseqüências que fariam qualquer pessoa que simplesmente adora a prática se arrepender de dizer que é “viciada em sexo”.


Graças a Tiger Woods, o assunto veio à biala em todo o mundo. Depois de uma escandalosa descoberta de traição pela esposa, o jogador de golfe ficou internado por seis semanas na clínica de reabilitação Gentle Path, no Mississipi, para se tratar do vício sexual.
Os tabloides disseram que, fora dos campos de golfe, o pensamento único de Tiger era o sexo e, para saciar o vício, ele passou a procurar outras mulheres.

É...
Segundo a Dra. Carmitta Abdo, professora de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do ProSex - Programa de Estudos de Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas -, “os compulsivos sexuais acabam entrando numa roda-viva tão intensa que seus companheiros não conseguem acompanhar o ritmo, o que o leva a procurar outras parceiras, como o sexo pago”.

O viciado vive uma grande ansiedade que coloca o sexo como sua única prioridade.
Numa busca incontrolável pelo alívio da tensão, ele se masturba e pratica o sexo muitas vezes por dia, além de consumir pornografia e usar a internet para o sexo virtual.
Torna-se dependente disso.

GERA...
Apesar do caso de Tiger ter tido repercussão mundial, as consequências na vida de um viciado podem ser ainda mais destruidoras.
As relações sociais se desgastam, o desempenho profissional e escolar cai e não existem mais momentos de lazer.
“Em muitos casos, os compulsivos perdem o emprego e, por pagarem cada vez mais pelo sexo, eles se quebram financeiramente”, explica a Dra. Carmitta.

Outra sequela é o desgaste físico e a significativa perda de energia causada pela prática excessiva do sexo, o que leva a uma baixa da imunidade.
Aliando a isso o fato de toda a preocupação com o sexo seguro perder o significado e o número de parceiras aumentar, o viciado passa a correr o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis com muito mais facilidade.

CAUSOU...
Hipóteses sobre as possíveis causas da dependência sexual já foram levantadas por especialistas. Histórico familiar de vício em drogas ou álcool, ou até mesmo em sexo, famílias com funcionamento problemático e experiências de contato sexual com adultos na infância são fatores que provocam desajustes psicológicos e podem levar ao distúrbio.

“Outra hipótese é de que esteja associado a alterações de neurotransmissores cerebrais, entre eles a endorfina e a dopamina. Com o orgasmo, a via neurobiológica da recompensa é frequentemente ativada, o que o faz buscar pelo comportamento sexual”, diz o Dr. Marco Scanavino, psiquiatra responsável pelo ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do ProSex e do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (AMITI).

VAI MELHORAR...
Como alguns males, não há cura para o problema, mas pode ser controlado por meio de alguns tratamentos. O mais recomendado pelos especialistas é a psicoterapia aliada ao uso de medicamentos, chamados inibidores seletivos de recaptadores de serotonina.
“São antidepressivos, mas não funcionam para tirar a tristeza da pessoa, e sim inibir a libido, dando maior controle do vício”, explica a Dra. Carmitta Abdo.

A psicoterapia utiliza recursos psicológicos para tratar do impulso sexual.
“Trabalhamos com o viciado o desenvolvimento da capacidade de formar e manter relacionamentos afetivos e resgatar questões familiares do passado”, diz o Dr. Marco.
Ele afirma que com dois meses de tratamento já é possível sentir uma importante melhora e com seis meses, um controle clínico significativo.

Outra opção são os grupos de autoajuda, como o Dependentes de Amor e Sexo Anônimos. Baseados em 12 passos para a recuperação, eles promovem reuniões para que pessoas com o mesmo problema compartilhem suas experiências.
A Dra. Carmitta acredita que “para quem se sente à vontade, os grupos são bastante úteis, já que a pessoa passa a pensar na própria vida e ter dimensão dos seus estragos ao ouvir situações paralelas. Ela se sente refletida no outro”.

Existem casos extremos em que o viciado se encontra com a saúde debilitada, emagrecido, com processos infecciosos e a compulsão sexual está definitivamente pondo em risco a sua vida.
Daí, é necessária a internação em clínicas de recuperação especializadas.
Nelas é feita a reabilitação da saúde do paciente, deixando-o forte de novo, junto ao tratamento do distúrbio.

“Funciona de forma semelhante a clínicas de outros tipos de vício.
Elas mesclam o tratamento psiquiátrico com a medicação e a formação dos grupos de autoajuda. É interessante já que o paciente fica isolado, ajudando a controlar o vício”, explica a Dra. Carmitta Abdo.

JÁ MELHOROU...
Os centros de reabilitação para compulsivos sexuais não existem no Brasil, mas lá fora é mais comum do que se pensa.
Além da fera do golfe Tiger Woods, celebridades como o guitarrista dos Rolling Stones Ronnie Wood e os atores David Duchovny, das séries Arquivo X e Californication, e Michael Douglas já bateram o ponto em clínicas para se tratar do mal.

Revista Galileu

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