19 junho 2010

Gérson de Souza


"Sou um operário da informação, um contador de histórias"
Por Elliana Garcia

Ele conhece os 5 continentes, já fez as mais diversas reportagens, nos lugares mais remotos do mundo. Aos 52 anos de idade, 32 de profissão, 7 deles na “Rede Record de Televisão”, o repórter paulista Gérson de Souza foge do comum ao fazer matérias recheadas de poesia e simplicidade. Acostumado a ter o microfone na mão, ele hoje está no papel de entrevistado e, literalmente, é a nossa notícia.
Quando começou a sua carreira de repórter?
Foi em 1977. Participei e ganhei o primeiro lugar em um concurso de locutores na Rádio de Bauru, no interior de São Paulo. Muitos disseram que eu estava louco, pois tinha uma carreira promissora de executivo em uma multinacional e larguei para trabalhar em rádio. E lá fiz de tudo, pauta, reportagem, locução, narração de futebol.

Como foi a transição para a tevê?
Aliado ao rádio comecei a fazer jornal impresso, que é uma grande paixão. Depois fui convidado pela jornalista Neusa Rocha para ingressar na televisão, isso em 1988. Mais tarde, a mesma Neusa veio para uma emissora da capital e se lembrou de mim, de como eu fazia as passagens no improviso, que eu saía do padrão, tinha uma linguagem diferenciada. A princípio eu não queria deixar a vida pacata do interior, mas quando vim, me apaixonei por São Paulo e não saí mais daqui.

Lembra da primeira reportagem?
Foi sobre o Sindicato dos Ferroviários. Haveria uma assembléia pra discutir questões trabalhistas e eu fui cobrir. Mas me recordo também que quando fui para a televisão fiquei um período na edição de imagens para perder os vícios de linguagem de rádio e de jornal impresso.

Você faz muitas matérias internacionais. Quantos países conhece?
Conheço os 5 continentes e mais de 30 países. Como diz o caboclo, “o mundo é muito surtido”, ainda há muito para conhecer.

Recentemente foi ao ar pela Record “Os 7 Milagres de Jesus”. Você visitou os locais onde aconteceram os milagres de Cristo para fazer essa série de reportagens. Como foi?
Você pode ir 360 vezes por ano a Israel que vai ter sempre uma emoção nova para sentir, e algo novo para refletir. Eu estive na tumba de Jesus duas vezes. Eu imaginava que quando voltasse ali não iria me emocionar tanto, só que na segunda vez me emocionei ainda mais. Foi emocionante também quando percorri alguns lugares que Cristo percorreu pelo deserto. Fiquei imaginando como era naquela época, quando não tinha carro, como era andar por ali de cavalos, camelos, a pé. Eu fiquei algumas horas no deserto sofrendo com o calor do dia e o frio da noite. Imagina na época de Cristo. Foi uma sensação emocionante. Você pode ir mil vezes e a cada vez que for terá motivos para se emocionar.

Você gravou a rota do Rio Nilo, como foi?
Fizemos uma rota do Nilo, um caminho diferente do que o turista faz. O Nilo corta todo o Egito. Sem o Nilo o Egito não existiria. É o rio que dá vida ao país. Saímos do Cairo com destino a Assuan, de trem, 14 horas de viagem. Depois, fomos a Luxor, navegamos em barco a vela e a partir de Luxor atravessamos o deserto branco, que é uma coisa fascinante, onde durante séculos a natureza esculpiu verdadeiras obras de arte com o vento. Passamos pelo grande mar de areia até chegar em Siwa, que é um dos maiores oásis do mundo. E naquela região onde há oásis, há vida, há cultura. Foi só a primeira parte ao ar (Pela TV Record), a segunda irá em breve.

Que outra matéria foi emocionante?
Fizemos uma expedição pelo Peru e a última parte da viagem foi no Lago Titicaca, onde conhecemos vários aspectos da cultura peruana. As construções são ilhas feitas de totora, uma vegetação estilo bambu mole, e eles constroem ilhas com essa palha. Acredita-se que ali foi domesticada a batata, pois antes muitos pagavam com a própria vida para descobrir o valor desses alimentos. Além disso, eles têm um artesanato fantástico, uma cultura maravilhosa. O Lago Titicaca foi o lugar onde eu senti mais frio. Ainda no Peru cobrimos uma festa de casamento que dura muitos dias e os convidados bebem de uma forma louca. O pai da noiva disse que não aguentava mais beber pra comemorar.

Quais as dificuldades que já passou em uma reportagem?
Já estive no meio de tiroteios, duas vezes na cratera de um vulcão na Guatemala e lembro que uma vez o vulcão cuspiu fogo enquanto eu estava lá. Em uma viagem ao Monte Sinai, eu estava com uma gripe muito forte, febre de 39 graus, dormimos no chão, fizemos pão na pedra, enfrentamos o frio do deserto. Mas quando terminou a escalada e eu pude chegar ao monte onde Moisés avistou aquele vale que era a Terra Prometida, me senti bem. Não foi fácil por conta da minha saúde, mas foi uma experiência maravilhosa. Eu procuro não pensar tanto nas dificuldades e mesmo em situações difíceis dá pra tirar algo de bom e fazer uma matéria maravilhosa.

Você também gosta de provar comidas exóticas. O que já comeu em reportagens que jamais ousaria comer no dia a dia?
Já comi gafanhoto, bicho da seda, verme de bambu, formiga. Horrível. E durante uma visita a uma vila indígena, os moradores me ofereceram o famoso Viagra de Bornel, uma aguardente que fica dentro de um recipiente misturado com fetos de vaca e veado, pênis de crocodilo, asa de morcego, tudo isso curtido por muito anos.

Você não poderia recusar?
Era a aldeia de baiaquis. Eles são conhecidos porque matam o inimigo, arrancam e comem o pulmão e o coração; cortam a cabeça e guardam a calota craniana como lembrança. Por via das dúvidas foi melhor aceitar aquela cachacinha, que até desceu bem, mas que tinha um visual horrível, isso tinha.

Qual a matéria que você ainda não fez e que gostaria de fazer?
Em 32 anos de carreira já fiz tanta matéria e no momento não me lembro de nenhuma que ainda não tenha feito. Será que acabaram meus objetivos? Estou ficando preguiçoso? Falta criatividade? (filosofa rindo)

Suas reportagens são recheadas de poesia, simplicidade, reflexão. De onde vem a facilidade para compor essas matérias?
Lembro de minha avó no interior, que gostava de sentar na calçada de casa e contar história de Pedro Malazarte e outros. Eu me envolvia no que ela contava. Eu sou um “caipira de carcanhar rachado”, e as reportagens que faço me dão a oportunidade de ser eu mesmo. Então não adianta simular uma pessoa que eu não sou. Eu sou um operário da informação, sou um contador de histórias. Procuro interagir com os entrevistados, me aproximar, me envolver, como sou no dia a dia. Eu sou essa pessoa que o público vê na reportagem. Só controlo um pouquinho pra não falar errado, porque do lado de cá “nóis” fala errado o tempo todo; “ nóis fala mermo”.

Qual conselho você deixa para os novos jornalistas?
Quando eu comecei a fazer jornalismo para a televisão, a Neusa Rocha me disse: “Se você for fazer uma matéria de um buraco de rua, pense que o buraco de rua de sua cidade do interior é igual o buraco de rua de Nova Iorque.
Você não precisa ir à Nova Iorque para fazer uma grande reportagem. Pode descobrir ali mesmo, por exemplo, que uma senhora caiu naquele buraco, quebrou a perna e não foi atendida porque não tinha hospital no bairro ou o da cidade estava super lotado.
Você pode falar das crianças que passam por ali para ir à escola; essa escola pode ter problemas. A partir de um buraco na rua, você pode contar problemas ligado à educação, à saúde e dali fazer uma grande matéria.”
O conselho que deixo é esse: Não importa qual seja o tema, se envolva na reportagem, dê o seu melhor. Jornalismo é um exercício diário de aprendizagem e informação e é muito mais importante do que o repórter.

3 comentários:

  1. Gerson é uma pessoa muito iluminada por Deus, sua simplicidade o levará a lugares altos, desde o primeira vez que o vi na tv, me identifiquei e sempre fico feliz quando o vejo nas reportagens. Gerson parabéns você é um excelente profissionak

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  2. Gersom transmite somplicidade e toda a emoção de suas repostagens! Obrigada pelo seu trabalho!!

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  3. CAIPIRA DE ALMA PERFUMADA

    Como um bom caipira, se diz um “contador de histórias”, mas é muito mais que isso, esse moço interiorano, que saiu pelo mundo colhendo de cada lugar que passou esse conhecimento, que nos passa com a sabedoria do homem viajado e a simplicidade do nosso caboclo.
    Histórias que retratam a vida de outros povos, lugares e costumes, até então, desconhecidos para a maioria de nossa gente.
    Doa-nos suas experiências com tanta leveza e dignidade que nos comove ver tanta paixão pelo que faz e como consegue nos encantar com tamanha facilidade.
    É assim, esse caipira franzino de sorriso largo, olhos gentis e alma doce e perfumada, operário da informação, como ele mesmo se denomina e para tantos, incluindo essa sua humilde fã, o melhor “contador de histórias”.

    Beijo e o carinho da Gil

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