28 setembro 2010

O Perfume das Meretrizes

De repente entra na sala uma mulher de reputação pra lá de duvidosa e caminha segura na direção de Jesus.

Sem a menor cerimônia, ajoelha-se atrás dele e lava-lhe os pés com lágrimas.
Usa os cabelos como toalha, e derrama sobre os pés secos o perfume que enche a casa de cheiro de cabaré.
Jesus não se faz de rogado: entrega os pés aos beijos da mulher.

Os estreitos de plantão não perdem tempo. Criticam o desperdício de perfume, sugerindo que poderia ser transformado em pão para os pobres, e fazem questão de anunciar em alto e bom som que se trata de uma mulher de péssima reputação, pecadora, disseram.
Por trás das palavras a respeito da mulher está uma implícita condenação a Jesus: se fosse profeta saberia que a mulher não presta; se fosse sério não se deixaria tocar daquele jeito; se fosse dos nossos condenaria a mulher de vida fácil.

Mas Jesus é diferente. Não é dos nossos. Jesus aceita o perfume das prostitutas.
Já consigo ouvir a observação dos estreitos de hoje: é verdade, mas a mulher abandonou aquela vida... Sei não.
Tudo quanto Jesus lhe diz é “seus pecados estão perdoados”, pois a demonstração de amor estava proporcional ao alívio da culpa: a quem muito é perdoado, muito ama.
E Jesus se despede da mulher: “Sua fé a salvou, vá em paz”.

Via de regra os beatos não aceitam o perfume das pecadoras.
E quando aceitam querem se certificar de que já mudaram de vida ou pretendem mudar.

Essa é a face mais sombria do cristianismo institucionalizado: impor sua moral, enclausurar o amor de Deus e a graça do Cristo.

Será o caso de “deixarmos” que a graça faça seu caminho dentro das pessoas, e as pessoas façam seu caminho por dentro da graça?
Será que conseguimos acreditar que Deus trata com os pecadores, e o faz aceitando seu perfume?
Ou preferimos controlar os pecadores, exigindo que se enquadrem em nossas estreitas molduras morais, em vez de lhes dar espaço para a transformação de dentro para fora?

Onde foi que esconderam o Deus que aceita o perfume das meretrizes?

Ed René Kivitz-Título Original: perfume de mulher. Divulgação Genizahvirtual.com

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