21 outubro 2010

Aids depois dos 50 anos

Livro do infectologista Jean Gorinchteyn mostra que, ao contrário do que muitos ainda pensam, a Aids não é uma doença que atinge apenas jovens

“Doutor, eu não sei usar um preservativo”. A afirmação, em tempos de conscientização contra doenças sexualmente transmissíveis, parece absurda. Especialmente se vier de uma pessoa acima dos 50 anos. Mas, infelizmente, é muito mais comum do que se imagina.

Pertencentes à era pré-Aids, pessoas dessa faixa etária são o foco do médico infectologista Jean Gorinchteyn, que lança nesta quinta-feira (21) o livro Sexo e Aids depois dos 50 (Ícone Editora, 124 páginas, R$21). A publicação revela o drama da revelação do diagnóstico e aborda as formas de contágio mais comuns nessa idade.

Gorinchteyn, que há 17 anos trabalha no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, referência no tratamento de Aids em São Paulo, acompanhou a evolução da epidemia da doença no Brasil. Segundo ele, a partir de 2002, o número de pacientes soropositivos acima dos 50 anos quase que dobrou: de 24 para cada 100 mil habitantes passou para 40,1 para cada 100 mil.

Percebendo o salto dos números de casos nessa faixa etária específica, o hospital decidiu, em 2004, abrir um ambulatório exclusivo para orientar esses pacientes. “O que me preocupa é que esse número (40,1 pacientes para cada 100 mil habitantes), se mantém até os dias de hoje”, diz Gorinchteyn. Segundo ele, estatísticas apontam que a presença da doença em pessoas acima dos 50 anos deve continuar a crescer e, até 2015, se igualar com a faixa etária mais atingida pela Aids, que é a de 2 0 a 49 anos.

Atualmente, cerca de 100 pacientes são acompanhados no ambulatório dirigido pelo médico. Dos atendidos, 75% são casados e menos de 2% contraíram a doença por uso de drogas, o que indica que as relações sexuais são as grandes responsáveis pela contaminação do grupo.

De acordo com o infectologista, a desinformação é o principal motivo do crescimento da doença em pessoas acima dos 50. “Eles acham que a Aids é uma doença que atinge apenas os jovens”, diz.
Gorinchteyn cita como exemplo o caso de uma paciente que sabia que o marido mantinha relações sexuais com outras mulheres, mas que jamais imaginou que ele poderia ser contaminado pelo HIV. “Ela tinha medo de outras doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorreia e a sífilis”.

Gorinchteyn afirma que é preciso uma campanha específica para esse tipo de público, já que as atuais utilizam personagens e linguagens direcionadas para os jovens.
Foi por isso, aliás, que o médico convidou nomes como Paulo Goulart, Nicete Bruno e Lima Duarte para fazer comentários no livro.
“São pessoas carismáticas, com apelo popular, que podem ajudar com que a mensagem do livro seja melhor compreendida”, diz.
Para o médico, é essencial que pessoas nessa faixa etária, que mantenham relações sexuais fora do casamento ou que estão em busca de companheiros, façam a sorologia para saber que se estão contaminadas pelo HIV.

O livro Sexo e Aids depois dos 50 traz prefácio do infectologista e diretor do Instituto Emílio Ribas, o médico David Uip, e terá parte da renda revertida para o próprio hospital.
Época

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