07 outubro 2010

“Vamos cobrar R$ 50 milhões do Flamengo na Justiça”, diz advogado do goleiro Bruno

Em entrevista a ÉPOCA, Ércio Quaresma afirma que está preparando uma ação por danos trabalhistas, morais e materiais

Ércio Quaresma é o advogado do goleiro Bruno, principal acusado da morte e do desaparecimento do corpo de Eliza Samúdio, sua ex-amante. O advogado recebeu, nos últimos dias, diversas acusações da família do goleiro. A avó, Estela Santana, 78 anos, disse que o advogado ameaçou a família de morte, caso o goleiro resolvesse mudar de advogado. “Ele só está interessado no dinheiro de Bruno e quer vender o sítio dele de qualquer jeito”, diz. Ela ainda o acusou de ficar com todo o dinheiro de Bruno e só ter repassado R$ 1 mil a ela.

Bruno passou mal em depoimento de testemunhas, na quarta-feira (6)

O advogado se defendeu, em entrevista, nesta quinta-feira (7), a ÉPOCA. “Eu tenho uma procuração do Bruno para administrar todos os bens dele e ele determinou que eu desse isso a ela.” As acusações da avó do goleiro não terminam aí.
“Ele está dopando o meu neto para que ele passe mal nas audiências. Ele já fez isso no Rio”
, disse Dona Estela, que enxerga conflito entre a estratégia de defesa de Ércio e a opinião da família. “Ele quer que Bruno minta. Nós só queremos a verdade.”

Ex-policial civil, Ércio é conhecido por seu temperamento explosivo. Em 2003, foi condenado a pagar R$ 20 mil de indenização ao juiz Sérgio Xavier por ofensa a honra.
No ano passado, chegou a ser preso com três pedras de crack na boca.
“Fiquei preso cinco minutos. Nunca ouvi falar que alguém come pedra”, debocha.
Ele diz que Dona Estela está sendo manipulada. “Muitas pessoas estão fazendo a cabeça dela contra mim. Se ela acha R$ 1 mil pouco, está no seu direito. É o que o Bruno manda dar”, diz.

Ele deu a ÉPOCA sua versão dos fatos e revelou a fortuna que está cobrando do seu cliente. Deu a entender que o valor acertado com Bruno para a defesa do atleta ultrapassa R$ 10 milhões.
“Já recebi R$ 215 mil. Isso não é 2% do que vou cobrar dele.”
O advogado já prepara uma ação contra o Flamengo exigindo R$ 50 milhões por danos trabalhistas, morais e materiais. Com um estilo no mínimo exótico, ele já apelidou todos os envolvidos no caso. O delegado Edson Moreira, por exemplo, é o Neanderthal. Patrícia Amorim, Patrícia Tamborim, e a delegada Alessandra Wilke, a paquita. Na entrevista, ele faz várias acusações ao delegado Edson Moreira.
ÉPOCA – Qual é a linha de defesa utilizada pelo senhor nesse momento?
Ércio Quaresma – A verdade está dita no processo. Só cego não enxerga. Não existe cadáver, até porque a senhora está viva.

ÉPOCA – Ela está viva?
Quaresma – Posso dizer que ela não está morta. Eu não vi o cadáver, eu não vi atestado de óbito. Se eu falo que ‘João está morto’, eu tenho que mostrar o cadáver, o atestado de óbito ou o exame de necropsia. Cadê? O corpo de delito não existe nos autos.

ÉPOCA – Se é assim, por que ele continua preso?
Quaresma – Porque o Tribunal de Justiça de Minas Gerais entendeu por bem manter essas pessoas presas. E até o presente momento, eu não ingressei com nenhum pedido de habeas corpus. Eu entendo que tanto a prisão dele quanto a do Macarrão são preventivas. E por estratégia, eu optei por não fazer nenhum pedido liberatório. Eu sou um advogado que o povo não gosta. Porque o quinteto das trevas, capitaneado pelo Neanderthal (Edson Moreira), torturou, maculou, ofendeu e achincalhou pessoas nesse processo.

ÉPOCA – Como?
Quaresma – Eu pedi para que o Bruno não chegasse a Belo Horizonte se expondo daquele jeito. O Neanderthal estava na porta do Departamento de Investigações.

ÉPOCA – ‘Neanderthal’ é o delegado Edson?
Quaresma – Essa coisa aí. Ele estava lá, o Bruno chegou, a paquita (delegada Alesseandra Wilke) abraçou ele, como se fosse algo que impedisse o Bruno de correr. Ele chegou, deu três toquinhos no peito de Bruno e disse: “Você tá em Minas. Passa que agora é comigo”. Ele vai falar isso com um cachorro, com a família dele. Com o meu cliente não. Ele falou com a Daiane (mulher do Bruno) que eu não estava preocupado com ela e que eu só queria holofotes. Perguntou se ela queria ver as filhas, a mãe, o irmão e disse que ia trazê-los para ela ver. Logo depois, ele disse que precisava ouvi-la, mas que eu estava no Rio e perguntou se ela não queria outro advogado. Isso é tortura psicológica. Por influência do irmão dela, que não gosta de mim, dois advogados foram pra lá. Ela prestou depoimento das 19h até as 3 da manhã.

ÉPOCA – Como o senhor responde às acusações da família de que o senhor estaria induzindo o Bruno a mentir?
Quaresma – Existem duas pessoas da antiga convivência do Bruno, que só pensam em dinheiro, chamadas Fátima e Vitor, e que estão fazendo a cabeça da dona Estela, avó dele, para que ele troque de advogado. Anteontem, eu acordei para o mundo e fui para o Tribunal para fazer sustentações orais de outros clientes, já que meu escritório não tem só um cliente. Tive notícia de que uma advogada teria ido à penitenciária Nelson Hungria e tinha conseguido uma procuração do Bruno. Nós nos encontramos lá e conversamos. Fui falar com o Bruno, pedi desculpas por qualquer erro em meu comportamento e desejei boa sorte. Disse que depois tínhamos que conversar, já que eu tinha procuração dele. Ele pediu pra falar. Agradeceu a ela e disse que queria que eu continuasse a defendê-lo.

ÉPOCA – Que argumentos o senhor usou para persuadi-lo a continuar com o senhor?
Quaresma – Eu nem conversei com o Bruno. Fiz perguntas a outras pessoas que estavam lá, que não vou dizer o nome, uma delas é o diretor da penitenciária, e o Bruno resolveu continuar comigo. É engraçado porque eu estaria drogando alguém em frente ao funcionário da cadeia. A situação aqui é pitoresca.

ÉPOCA – A idéia de trocar de advogado não partiu dele?
Quaresma – Há um movimento de pessoas de dentro da penitenciária pra que eu deixe o caso dele. Eu não vou dizer os nomes. A idéia não partiu dele. Como uma pessoa dentro de uma cela vai ligar para uma advogada?

ÉPOCA – Qual é a situação de saúde do Bruno?
Quaresma – Muito debilitada.

ÉPOCA – O que ele tem?
Quaresma – Uma depressão profunda e tem uma questão neurológica. Eu pedi hoje que fosse feita uma avaliação imediata do quadro.

ÉPOCA – O senhor pensa em pedir prisão domiciliar?
Quaresma – É uma alternativa. A vida dele na cadeia é insuportável. O homem é inocente, a mulher dele está presa, o melhor amigo está preso, os funcionários estão presos e o Brasil inteiro grita que ele é assassino.

ÉPOCA – Ele tentou mesmo o suicídio?
Quaresma – Tentou no Rio. Aqui não. O Macarrão não deixa. Está na mesma cela dele.

ÉPOCA – Qual é a relação dele com a família e com o Macarrão?
Quaresma – Ele adora o Macarrão. Quanto à família, tem uma história interessante. Ele tem R$ 140 mil em roupas no Rio de Janeiro. Eu perguntei a ele onde eu entregava. Ele disse que na casa do Macarrão. Eu perguntei por que não na casa dele. Ele disse que não confiava nas pessoas da casa dele, só na dona Estela. Eu tenho uma procuração do Bruno que me dá direitos a rescindir contratos dele, de assinar contrato com time do Japão, eu posso fazer o que eu bem entender.

ÉPOCA – É o senhor que administra os bens dele?
Quaresma – É, mas ele não tem bens. O bem é o sítio. Para ver a confiança que ele tem nos membros da família, a chave está em meu poder. Só entra lá quem eu deixar. Eu que pago os salários dos funcionários dele. Ao contrário do que estão dizendo, eu não recebi R$ 90 mil. Eu recebi R$ 215 mil. Eles não serão entregues à família a não ser que o Bruno determine. Só de despesa com o processo já foram R$ 40 mil. Eu fiquei 10 dias por conta do Bruno no Rio. Minha conta de telefone deu R$ 7 mil e o hotel R$ 5 mil, por exemplo. Mas a família não quer ver e nem entender.

ÉPOCA – É verdade que esses R$ 215 mil não são nem 5% do que o senhor vai cobrar?
Quaresma – Não vou dizer o quanto eu cobro. Mas isso não paga 2% do valor que o cobrei dele.

ÉPOCA – O senhor então cobrou mais de R$ 10 milhões?
Quaresma – Não sei. Não vou dizer.

ÉPOCA – E quanto às acusações de que o senhor estaria dopando o réu para que desmaiasse em público?
Quaresma – Como eu vou refutar pessoas que têm cérebro de ameba? Eu não posso contradizer.

ÉPOCA – O senhor já comprou remédios pra ele?
Quaresma – Não. Só pra mim. Tomo 12 por dia.

ÉPOCA – Nunca? Nem mandou comprar?
Quaresma – Eu creio que não. Até porque para ingressar com remédio na penitenciária tem que estar com receita e não pode deixar cartela de remédio com o preso.

ÉPOCA – O senhor quer vender o sítio dele?
Quaresma – Logo que se esgotaram todas as possibilidades financeiras, ele pediu que eu vendesse, mas eu não quis, porque não quero dilapidar o patrimônio do meu cliente. Mas estou vendo que ele terá de assinar alguns contratos para garantir meus honorários, diante de um funcionário da penitenciária.

ÉPOCA – Ele não tem dinheiro guardado?
Quaresma – Não. Nada. O cérebro do Bruno é para jogar bola. Ele é uma criança que entrava em um boteco e pagava conta de R$ 10 mil dos amigos. Ele punha 40 pessoas no ônibus aqui, levava para o Rio e pagava as contas de todos.

ÉPOCA – Ele não tem dinheiro algum guardado? Mesmo ganhando R$ 200 mil mensais?
Quaresma – Ele tem R$ 90 mil guardados. Ele não ganhava isso. Ganhava R$ 100 mil e tem luvas a receber de R$ 375 mil. Tinha também um contrato de patrocínio de R$ 9 mil. O Flamengo é covarde até para me explicar direito o quanto deve de luvas. A Patrícia ‘Tamborim’ (Amorim) não sabe nem qual a situação jurídica do Bruno. Estamos entrando com uma ação trabalhista que vai fazer o Flamengo perder até o rumo. Vamos cobrar R$ 50 milhões entre danos morais, materiais e trabalhistas.

ÉPOCA – Ele vai receber luvas do Flamengo agora?
Quaresma – R$ 375 mil. A família não vai ver um centavo disso, se o Bruno não determinar. Quem vai administrar sou eu. Eu não tenho um contrato de honorários assinado com ele. Se ele disser que não me quer mais, tenho que entrar na Justiça para receber. Mas não vai ser preciso. Ele tem caráter, ao contrário dos familiares dele. Só se salvam dona Estela e a prima Simone.

ÉPOCA – A dona Estela está reclamando que o senhor só deu R$ 1 mil pra ela até agora.
Quaresma – Se a dona Estela está inconformada, eu respeito. Eu repasso pra ela o valor que o Bruno determina. Ele determina R$ 1,5 mil pra ela e R$ 1,5 mil pras filhas. E R$ 1 mil pra uns funcionários dele.

ÉPOCA – Que funcionários? Eles fazem o quê?
Quaresma – Não posso dizer o nome. Eu não vou dizer o que eles fazem. Dentro do meu escritório não preciso dizer o que eu pago e nem a quem.

ÉPOCA – O senhor realmente chamou o irmão de Daiane (cunhado de Bruno) de ‘neguinho’?
Quaresma – Eu estava conversando com a irmã do Bruno, e o indivíduo afrodescendente veio aos gritos: “O que é que esse cara está ameaçando a minha irmã?” Eu tenho sangue nas veias. Eu virei e disse: “Ô gigolô de sobrinha, some daqui, neguinho!”. O cidadão é afrodescendente. Eu tenho uma madrasta negra, minha irmã é filha de uma negra. Eu vou ser racista? Fizeram muito carnaval. Família é muito bom em álbum de fotografia, e só se for bonita.

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