21 setembro 2009

“Globo é antidemocrática” - Paulo Ramos

Como se não bastasse a influência no cenário político nacional desde a Ditadura, a “TV Globo” é acusada de utilizar seu poderio de mídia para eleger quem é do seu interesse. Em entrevista à
Folha Universal, o deputado estadual Paulo Ramos, do Rio de Janeiro, líder do Partido Democrático Trabalhista (PDT), e deputado federal por dois mandatos, fala de suas investigações sobre as “Organizações Roberto Marinho”, como a compra do Projac com dinheiro da Caixa Econômica Federal.


1 – O senhor acha a quebra do monopólio da audiência é saudável para o País?
Durante muitos anos as “Organizações Globo” tiveram uma hegemonia muito grande e isto não permite a diversificação da informação. O monopólio é uma perversidade para a democracia. É preciso que haja a concorrência e que se tenha uma multiplicação dos meios de comunicação. A televisão é veículo muito importante e é preciso que haja a competição para que a população receba informações de fontes variadas. A “Globo” se habituou a ter o controle do poder político em função dos índices de audiência. Na medida que os índices caem, diminui a influência dela.

2 – Qual a relação e o poder da mídia às vésperas de uma eleição?
Quando deputado federal, eu fiz um levantamento de tudo que a “Globo” controlava, como as repetidoras nos estados e municípios. Chegamos à conclusão que ela determinava o fato histórico e tinha o poder de adulterar a informação depois do acontecido. E esta situação confere um superpoder que não interessa à democracia.

3 – O senhor acompanhou o caso Proconsult, a suposta tentativa de fraude na eleição do Brizola, em 82. Isto realmente ocorreu?
Aconteceu e foi comprovada a
participação do “Sistema Globo”. E, embora tenha tudo ficado evidente e comprovado, ninguém foi responsabilizado.
4 – O senhor acha que a “Globo” segue tentando influenciar nos destinos políticos do País?
Com certeza absoluta. Não é à toa que a “Globo” decide seu modelo de satanizar quem quer e endeusar àqueles que vão de encontro com seus interesses. Mas o interesse da “Globo” nunca é o mesmo da democracia, por isto, não interessa à população.

5 – Isso ainda acontece?
Claro, e inclusive durante a última eleição à prefeito no Rio de Janeiro não concordei com as regras que a “Globo” queria impor e determinar quem iria participar dos debates. Queria selecionar o debate conforme seus interesses. A legislação diz que todo partido que tem representação no Congresso Nacional tem direito de participar. Como a população irá opinar se a “Globo” quer dar as regras. Isto é antidemocrático, mas a “Globo” é antidemocrática.
6 – Na grande maioria da vezes, os políticos se intimidam com a “Rede Globo”? Há o medo de ficar de fora da programação, como aconteceu com ex-prefeito do Rio, Saturnino Braga?
Há dois comportamentos: de dependência e de submissão.Também fiquei impedido de ser entrevistado pela “Globo” quando fiz a CPI da compra do Projac. A emissora procura colocar o parlamentar no anonimato e sepultam a atuação dele. Há casos em que existe uma verdadeira perseguição. Por isto, já fiz ato público em frente à “Globo”, chamando: “É roubo, é roubo é tudo Rede Engodo”, como também um ato em frente ao IBOPE, o orgão de pesquisa preferencial do “Globo”.

7 – Há no cenário político alguém que conseguirá incomodar o poderio da “Globo” como Leonel Brizola, que se elegeu governador do Rio Janeiro, em 82, e se reelegeu, em 1990, mesmo contra a vontade do grupo?
A contribuição de Brizola foi para desmascarar o “Sistema Globo” e hoje se percebe nas pessoas uma rejeição a qualquer esforço da “Globo” de divulgar qualquer informação que não corresponda ao desejo da população. Na dimensão da política de Brizola, ainda não surgiu ninguém com uma coragem tão grande. Como denunciamos, a compra do Projac foi feita com investimento da Caixa Econômica Federal, por U$ 39 milhões (R$ 70,4 milhões), através de uma linha de crédito a juros bem menores do que o captado no mercado.
8 – O senhor acredita que a “Globo“ elegeu Collor e o retirou da Presidência da República? A “TV Globo” teve participação intensa na campanha, em 1989?
O Collor foi candidato da “Globo” e criou um partido para concorrer naquela eleição. Mas é bom lembrar que depois de eleito, Collor rompeu com Roberto Marinho, porque o Collor estava construindo uma rede nacional de televisão e todas as concessões da “Globo” iam vencer em 1993, ainda no governo dele. Ninguém no Brasil é destituído do poder por causa de corrupção. Havia a corrupção no governo de Collor, inclusive também votei pelo impeachment, mas, a “Globo” realmente tinha outros interesses. Ela queria inviabilizar o surgimento de uma nova rede. E dependendo de um comportamento da “Globo”, Collor poderia não renovar as concessões.

9 – Como está o andamento da CPI do Projac? O que foi descoberto?
Ficou comprovado que a Caixa Econômica Federal beneficiou a “Globo” com a construção do Projac.

10 – O senhor pretende continuar investigando as “Organizações Globo”?
Não tenho outra alternativa, pois defendo a democratização da informação. Defendo que se deva pulverizar no controle dos meios da comunicação. A concentração faz mal à democracia. Em países verdadeiramente democráticos isso não acontece. As atitudes da “Globo” são perniciosas. São muitas denúncias contra ela, e a gente vai remando e acreditando no fim da impunidade.

Por Alice Mota

Nenhum comentário:

Postar um comentário