06 fevereiro 2010

O PODER É AFRODISíACO

MAIS UM ARTIGO DA SOCIÓLOGA QUE SEMPRE ABRILHANTA ESTE BLOG, DESSA VEZ ANALISANDO OS ALTOS ÍNDICES DE POPULARIDADE DO PRESIDENTE. NÃO DEIXE DE LER.

Maria Lucia Victor Barbosa

Algumas pessoas não entendem a aceitação quase unânime de Lula da Silva.
Aconteça o que acontecer, pesquisas sempre registram assombroso e crescente prestígio do presidente da República.

Escândalos atingindo seus companheiros mais próximos de partido e de governo, algo que em outros países no mínimo traria descrédito à figura presidencial, não acarreta consequência sobre o mito do salvador da pátria cuidadosamente construído.
Apagões de transporte aéreo, apagões de energia, Educação no fundo do poço da mediocridade, Saúde em descalabro, estradas em estado calamitoso, nada perturba a paz e a alegria do presidente voador, que quando não se encontra em palanques ou sob as luzes das TVs está usufruindo de uma de suas inúmeras e maravilhosas voltas ao mundo.

No ano passado, o presidente que tanto criticou as viagens do seu antecessor passou 83 dias circulando pelo Brasil em campanha ilegal por Dilma Rousseff e 91 dias em 31 países.
Neste ano ele já visitou, somente em janeiro, sete Estados, sempre acompanhado por sua ministra da Casa Civil e candidata.
Entre frenéticos discursos Lula da Silva inaugura o que existe e o que não existe.

A popularidade do presidente, segundo alguns, vem do seu carisma. Será?
Se fosse tão carismático ele teria se alçado à presidência da República na primeira tentativa e não na quarta.
Outros atribuem o prestígio de Lula da Silva a sua genialidade.
Mas gênio não emite tantos disparates quando deixa de lado a leitura dos discursos oficiais e expande sua verve populista, entremeada de palavrões e ataques pesados aos adversários.
Na verdade, a aceitação de Lula da Silva vem de alguns aspectos já conhecidos e por mim já abordados em artigos, tais como: propaganda asfixiante, impressionante culto da personalidade, exposição em over dose da figura presidencial trabalhada como um pop star, “bondades” distribuídas aos ricos, aos pobres e a chamada base aliada, o que demonstra a velha máxima: “pagando bem que mal tem”.

Tudo isso seria suficiente para o endeusamento de Lula da Silva.
Mas tem algo mais que tem sido feito por ele mesmo.
Em arroubos megalomaníacos o presidente não cessa de se endeusar, de se auto-elogiar, de ensinar ao mundo seu exuberante êxito.
Ele sente prazer em exercitar sua autoridade, de se impor.
Por isso se diz que há algo afrodisíaco no poder.
Rendida, a massa que escuta apaixonada a violência verbal chega ao êxtase coletivo e se rende ao culto do chefe ou à sua imagem, o dá a ele o grande recurso para governar.
A Lula da Silva basta a imagem, o tom de voz, os esgares.
E quando a imagem se sobrepõe à verbalização temos o antidiscurso que justamente consagra o fascínio pela incoerência tão cara às massas.

Lula é a personificação do antidiscurso.
Some-se a isso o que Hannah Arendt denominou como “instinto de submissão: “um desejo ardente de se deixar dirigir, de obedecer a um homem forte”.
Isso explica um dos fatores da obscura adesão a uma imagem, a uma projeção idealizada que jamais resistiria a sua própria realidade tosca, incoerente, medíocre, vulgar.

Em sua magistral obra, “O Estado Espetáculo”, Roger-Gérard Schwartzenberg mostra como no fascismo a “multidão italiana se entregou ao Duce, o macho latino, de forma voluptuosamente submissa”.

E Hitler, demonstrando o comportamento machista do nazismo, declarou: “A grande maioria do povo se encontra numa disposição e num estado de espírito tão femininos que suas opiniões e seus atos são determinados muito mais pela impressão produzida sobre seus sentidos, que por uma reflexão pura”.
Também na obra acima citada se encontra o que disse William Gavin, que foi membro da equipe de Nixon: “O eleitor é fundamentalmente preguiçoso e em hipótese alguma se poderá esperar que ele faça o menor esforço para compreender o que lhe dizem.
Raciocinar exige um grau elevado de disciplina e concentração; é mais fácil impressionar.
O raciocínio repugna ao telespectador, ou então o agride, exige que ele concorde ou recuse;
uma impressão, ao contrário, pode envolvê-lo, solicitá-lo sem o colocar diante de uma exigência intelectual”.

Os marqueteiros, esses construtores de imagens, sabem tudo isso.
E os ególatras que alcançaram o poder praticam a sedução e a submissão das massas de modo espontâneo e masoquista.
Seu egocentrismo desenfreado, seu hedonismo patológico os torna megalomaníacos.
Entretanto, todos também sabem que paixões não são eternas.
Tampouco existem deuses mortais.

Note-se que a paixão dos venezuelanos por Hugo Chávez, outro macho latino com características fascistas, começa chegar ao fim.
Quanto ao presidente brasileiro é um homem de sorte incomensurável, mas sorte é algo aleatório e um dia pode acabar.
Recentemente Lula da Silva provou para si mesmo que não é imortal.
E começa a aprender o que ensinou Maquiavel: “Quem cria o poder de outrem se arruína”.
Ele que se cuide com Dilma Rousseff.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
Postado por David

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