20 junho 2010

Geraldo Luís - Ele já trabalhou como lavador de defunto em uma funerária; hoje, brilha na tevê


Sotaque do interior, sorriso largo, sem medo de falar o que pensa e muito menos demonstrar suas emoções. Abandonado pelo pai e criado pela mãe, o apresentador Geraldo Luís já trabalhou como lavador de defunto e viu a mãe ser presa por roubar um pedaço de carne. Cenas que fazem parte de sua história e que ele não hesitou em compartilhar com os leitores do Arca Universal.

Como foi a sua infância?

Fui criado pela minha mãe, que foi a pessoa mais importante da minha vida. A dona Olga era uma mulher guerreira,e juntos passamos por situações que deixaram marcas terríveis na minha alma, mas também que me transformaram no ser humano que sou hoje. Meu pai nos abandonou quando eu tinha 4 anos de idade, na véspera de Natal. Minha mãe foi à luta para me criar. Passamos por muitas dificuldades e humilhações.

Quais foram essas dificuldades?

A minha mãe trabalhou como faxineira, diarista, lavadeira, cortadora de cana, tudo isso para que tivéssemos o que comer, e muitas vezes o dinheiro não dava pra isso. Já passei muita fome nessa vida, muita necessidade, mas toda essa dor nos manteve ainda mais unidos. Morávamos num cortiço, um lugar onde imperava a pobreza, a fome, a degradação. O banheiro era do lado de fora, mas o grande marco mesmo era a chuva. Até hoje quando ameaça chover fico em pânico, pois quando chovia, a nossa casa inundava. Chovia mais lá dentro do que fora, e por várias vezes dormi dentro de um guarda-roupa, que era o único local onde não molhava. Quando vejo tragédias relacionadas à chuva me emociono demais, pois já senti isso na pele.

Entre tantas dificuldades que você passou, qual é o momento que jamais sairá de sua mente?

Quando me chamaram e disseram: “Geraldo, a sua mãe foi presa”. Essa parte foi terrível. A minha mãe foi detida porque havia roubado um pedaço de carne. Fazia tempo que não comíamos carne e ela roubou. Ver a minha mãe ali, detida por causa de um pedaço de carne, foi desumano demais. Essa cena é difícil de esquecer. Ela não precisava disso, mas a necessidade, a fome, fica marcada dentro da gente. Hoje posso comer em qualquer restaurante, em qualquer lugar do mundo, mas essa cena pra mim é desumana demais e jamais vou esquecer. (o apresentador chora)

Me fale da sua carreira. Seu sonho de criança era ser jornalista?

Não era bem ser jornalista, era trabalhar na televisão. Comecei fazendo teatro na escola. O teatro me fascinava. Tínhamos a “Turma do Pintando o Sete”. Fizemos cerca de 700 apresentações. E quando não estava estudando ou fazendo teatro, eu me imaginava trabalhando na tevê, sendo famoso. Era uma fuga da realidade, da vida difícil. Sonhar me acalmava, me fazia esquecer aquela realidade.

Mas você foi pelo caminho do jornalismo. Como aconteceu?

Fiz de tudo na minha vida, só não roubei. Eu fazia trabalho de silk screen (uma técnica de pintura) e fui oferecer meu trabalho para um radialista de Limeira (interior paulista), chamado Pinheiro Alves. Ao me ouvir, ele disse que eu tinha uma boa voz e me chamou para ir até a emissora de rádio. No dia seguinte fui até lá, li uma notícia no ar e não parei mais. Comecei como auxiliar de repórter policial, em 1989.

A vida mudou a partir daí?

Ainda demorou para entrar nos eixos. O rádio, principalmente no interior, pagava muito pouco, mas eu não podia perder aquela oportunidade e também não podia ficar sem dinheiro. Passei a fazer trabalhos extras. Fui lavador de defunto em uma funerária. Foi um período difícil, tive que me abster do medo, pois eu ganhava mais lavando defunto do que na rádio. E esse dinheiro fez toda a diferença. O destino dele era para comprar comida, que era a grande necessidade lá em casa. Também fui pacoteiro, engraxate, garçom. Comecei a trabalhar aos 9 anos de idade.

E seu ingresso na televisão, como foi?

Fui me tornando conhecido no rádio. Depois, passei a ter um programa só meu. Tinha também uma coluna policial em um jornal impresso, e depois de anos de ralação consegui um programa de televisão. Só que em meio a tudo isso, sempre me preocupei com os mais necessitados. Nos meus programas, por mais que tivesse dor, por mais que se falasse de violência, eu também abria espaço para a parte social. Dava cadeira de rodas, remédios, cestas básicas.

Como foi a sua ida para Rede Record?

Eu estava em Limeira e recebi uma ligação do Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da Record. Achei que fosse um trote. Confirmado que era verídico, vim até São Paulo, fiz um programa piloto e o Douglas me disse que em 30 dias eu teria uma resposta. Só que algumas horas depois, voltando para Limeira, recebi outra ligação, pedindo que eu retornasse urgente para a tevê. Quando cheguei à emissora, o contrato já estava pronto e daí é essa história que todos conhecem. Estreei em 2007 e, graças a Deus, deu tudo certo. Foi a realização de um sonho. Aliás, está sendo a realização de um sonho.

Você fala muito de sua mãe, do amor que sente por ela, mas logo após a sua estréia, ela faleceu não foi?

A minha mãe faleceu 2 dias depois que estreei na Record. Foi difícil demais. Ela foi uma grande mulher. Mas Deus me abençoou muito no interior. Antes dela falecer, pude lhe dar uma vida um pouco melhor. Viajamos muito e ela realizou o sonho de viajar de avião. Pude, junto com ela, fundar a “Casa da Sopa”, que é um lugar que ajuda os mais necessitados. Começamos há 4 anos, servindo 15 refeições por dia. Hoje, 9 mil refeições são servidas diariamente. Damos cursos de artesanato, manicure, mais de 400 crianças são assistidas diariamente e as mães dessas crianças recebem uma qualificação profissional e estudos. Cuidamos da família como um todo. A “Casa da Sopa” é a minha grande realização. Eu precisava fazer pelo próximo o que nesses anos Deus fez por mim.

O que pretende para o futuro?

Eu não quero envelhecer na televisão. Quero ganhar meu dinheiro, dar uma boa educação para o meu filho e fazer minha pousada. Tenho esse sonho de ter uma pousada e viver disso. A vida é muito rápida. Quero também trazer a “Casa da Sopa” para São Paulo e viajar bastante. Gosto de viajar.

Qual a viagem inesquecível?

Ainda quando morava no interior viajei para Jerusalém. Foi a minha primeira viagem internacional. Imagina um garoto pobre, que não ia de Limeira a São Paulo, de repente indo conhecer Jerusalém, a Terra Santa? Foi incrível. No Monte das Oliveiras foi onde eu mais senti a presença de Jesus. Lá, você tem um encontro espiritual. Fui em 1998. Vou voltar com João Pedro, meu filho, no final do ano.

Depois de tantas lutas, mas também de vitórias, como você se vê?

Sou alguém que está procurando melhorar como pessoa, e por outro lado vejo o quanto já melhorei, controlando vícios humanos. E vícios não é só a bebida, cigarro, é comportamento também. Como agia antes, as escolhas que fiz, as que faço hoje. Estou em paz espiritual. Melhorei na minha tranquilidade de saber esperar a hora certa. Sou um homem feliz, só quero voltar a trabalhar logo, não consigo ficar parado. Devo voltar a apresentar o “Balanço Geral”, pela “Rede Record de Televisão”, no horário do almoço, depois da Copa do Mundo.

Que conselho você deixa para as pessoas que estão enfrentando uma situação difícil?

Todos os dias temos uma oportunidade de recomeçar. Volte a amar. Amar o trabalho, a família, a vida, a si mesmo, o próximo, e acredite nas pessoas. Errou ontem, acabou. Recomece hoje. As pessoas têm vergonha de amar. E a essência do amor tem que estar em tudo em nossa vida. E por mais difícil que esteja a situação, acreditem em Deus, no amor, tenham fé, que tudo vai melhorar.

Por Elliana Garcia / Foto: Demetrio Koch/arca universal

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