05 julho 2010

Na volta, Julio Cesar desabafa e diz que 'tem vontade de sumir'

Todos os personagens do fracasso do Brasil na Copa do Mundo ainda sobrevoavam a África do Sul a bordo de um Airbus fretado pela CBF, no momento em que o goleiro Julio Cesar deixou a primeira classe do voo JJ 9599 - com destino ao Rio de Janeiro e, depois, São Paulo - para conversar com outros passageiros. Queria desabafar.
A noite de sábado avançava na costa oeste do continente africano e era visível o desconforto do jogador com o desfecho da campanha da seleção, eliminada da competição pela Holanda.

"Tenho vontade de sumir", declarou, tenso, com os olhos vermelhos, tentando se controlar para não repetir o choro que o acompanhou por mais de 24 horas, depois daquela partida, disputada na sexta-feira, em Port Elizabeth.

No confronto, Julio Cesar teve uma falha determinante no primeiro gol do adversário, lance que deu início à reação da Holanda, classificada para enfrentar o Uruguai numa das semifinais do Mundial.

"Ele está obcecado com isso e não fala em outra coisa. Foi assim no estádio, no hotel, no ônibus e agora no avião. Fica se desculpando o tempo todo, é impressionante. Dá muita pena vê-lo assim", contou, comovido, um funcionário da CBF à reportagem da Agência Estado, também presente no voo da seleção.
O drama de Julio Cesar chamou a atenção até mesmo da tripulação. Uma comissária de bordo que lhe ofereceu um copo de água, quando da visita do goleiro à classe econômica, notou o quanto ele estava descompensado: "Acabei de ver uma pessoa destruída".

Julio Cesar continuava a resenha, falava mais que seus interlocutores. Às vezes desviava o assunto para analisar as quatro equipes que chegaram à fase semifinal do Mundial. Pouco antes, num comunicado da cabine do comandante, todos os passageiros tomaram conhecimento da vitória da Espanha sobre o Paraguai. Mas, bastava uma pequena pausa e o goleiro voltava a expor seu drama pessoal. "Estou muito mal. Preciso de paz interior. Não consigo dormir há dois dias".

HARMONIA - Enquanto Dunga não deixava a área reservada à cúpula da comissão técnica da seleção e seu auxiliar Jorginho apresentava a filha a alguns atletas e convidados do voo, Robinho, Nilmar, Lúcio, Michel Bastos e Kleberson circulavam pelo avião com algum desembaraço - algo raro nas viagens da seleção nos últimos quatro anos.

Robinho chegou a convidar alguns jornalistas para um jogo de cartas. "Estou muito chateado, mas a vida segue, temos que olhar para frente", disse.
O voo durou 9 horas e 45 minutos, sem nenhum registro de turbulência. Ao mesmo tempo em que havia um clima de tristeza entre todos da delegação, era claro o relaxamento de vários jogadores, já livres das regras estabelecidas por Dunga.

Felipe Melo, também pivô de um lance capital no jogo com a Holanda, preferiu ficar no seu assento na maior parte da viagem. De acordo com um integrante da comitiva, o atleta parecia tranquilo, ouvia música e falava sempre de modo muito sereno e afirmativo, até quando se referia à jogada em que agrediu um holandês e foi expulso de campo.

APOIO - O pastor Anselmo Alves, da Primeira Igreja Batista de Curitiba, levou para o voo JJ 9599 apoio e solidariedade aos sete jogadores evangélicos da seleção.
Por vários minutos, conversou pausadamente com Lúcio, de quem é amigo desde 2002. Antes, o missionário contou que teve um encontro com o grupo em Johannesburgo e que durante o Mundial costumava passar mensagens pelo celular para Kaká, Luís Fabiano, Felipe Melo, Gilberto Silva, Lúcio, Luisão e Daniel Alves.
"Eles estão sofrendo muito pela dor do povo brasileiro", disse o pastor, ex-jogador do Atlético Paranaense na década de 80.

AE/Notícias Cristas

Nenhum comentário:

Postar um comentário