04 julho 2010

O cinegrafista que sobreviveu a queda do Helicóptero da Rede Record, afirma: 'Sou um milagre'


Em fevereiro último, um acidente com o helicóptero da “Rede Record de Televisão”, no Jockey Club de São Paulo (zona sul da capital paulista), deixou o piloto Rafael Delgado Sobrinho, de 45 anos, morto e o cinegrafista Alexandre Silva de Moura, conhecido como Borracha, de 37 anos, em estado grave

O cinegrafista que sobreviveu a queda do Helicóptero da Rede Record, afirma: 'Sou um milagre' Borracha se recuperou, e quase 5 meses depois, conta como está a sua vida e que lições tirou dos momentos difíceis que passou.

Como começou a sua carreira como câmera?
Era o meu sonho trabalhar como câmera. Desde pequeno, onde havia uma festa, lá estava eu, registrando os fatos. Esse era o meu foco e eu precisava disso, já que nasci em uma família simples, passamos por dificuldades, mas esse era um sonho. Comecei na “TV Record” do Rio de Janeiro, como motorista, depois arquivista, e as coisas foram acontecendo, até surgir a oportunidade de vir para São Paulo. Nesse meio tempo, vi uma chamada na tevê mostrando um helicóptero e eu disse para mim mesmo: “Um dia vou trabalhar no helicóptero”. E aconteceu.

Você ficou conhecido do público por conta do acidente com o helicóptero da Record ocorrido em fevereiro deste ano, no Jockey Club de São Paulo. Quais as lembranças que você tem desse dia?
Naquele dia não era para eu trabalhar. Cerca de 2 meses antes havia recebido uma promoção e passado de operador de câmera para coordenador de operação de sistemas de tevê, e não voava mais. Fui substituir um amigo, o Adriano, que tinha um compromisso. Fomos eu e o comandante Rafael (que morreu no acidente). Entramos ao vivo na tevê, primeiro cobrindo um assalto no bairro do Brás (região central de São Paulo), depois fomos para o bairro do Morumbi (zona sul) mostrar um acidente com uma carreta. Estávamos prestes a entrar no ar e o helicóptero começou a sair do lugar. O Rafael disse que o motor da cauda não estava funcionando e foi deslocando o helicóptero para perto do Jockey, porque era uma área descampada, e se caíssemos não atingiríamos outras pessoas. Mesmo num momento difícil, ele pensava no bem-estar dos outros. Como eu não era leigo, só pedia a Deus para nos ajudar , pois tudo indicava que íamos cair. E o Rafael me dizia: “Calma Borracha, que a gente vai conseguir”. Quando vi que o helicóptero começou a cair me segurei no banco e desmaiei. Foi tudo muito rápido, mas parece que passa toda a sua vida na mente.

E quando você acordou?
Fiquei 15 dias em coma induzido. Quando acordei, minha mãe e minha noiva me falaram do acidente, mas era estranho, não conseguia me lembrar de nada.

Você ficou em estado grave, muito machucado?
Tive uma fratura no abdômen e uma hemorragia interna. Tive um sangramento no cérebro e precisei de uma cirurgia. Também fiz outra na face, pois meus dentes subiram com o acidente, outra na coluna e uma na cabeça, para retirar água que se acumulou na fronte. Tive quase todas as costelas quebradas, sobraram apenas duas, 5 vértebras quebradas e a coluna ficou inteira. Fiquei 15 dias na UTI em coma e ao todo 45 dias internado.

Os médicos acharam que você poderia ficar com alguma sequela?
Houve um determinado momento, na cirurgia da coluna, que eles estimulavam a perna, por exemplo, para saber se havia movimento. Eu fiquei 3 horas sem movimento nenhum. Depois os movimentos voltaram.

Você passou por alguma depressão depois do acidente?
Eu não conseguia me olhar no espelho. Havia perdido 12 quilos. Eu definhei. Estava fraco, debilitado, cheio de pontos. Depois da cirurgia na coluna, renasci. Achei que fosse ficar paraplégico. Quebrei 5 vértebras e a minha medula não foi afetada. Tem gente que quebra uma e complica a vida. Ficar dias e dias deitado na mesma posição era desesperador. Quando o médico me colocou de pé e eu dei os primeiros passos, foi como se fosse o meu primeiro dia de vida.

Como você soube da morte do comandante Rafael?
Soube duas semanas depois do acidente. Todos diziam que ele estava bem. Quando o efeito dos remédios passou, comecei a questionar. Se ele está bem por que não veio me visitar ou me telefonou? Perguntei para a minha mãe e ela me disse que ele havia morrido. Não acreditei. A minha noiva me confirmou e disse que havia ido ao velório, foi me contando e foi difícil de aceitar. Para mim o mundo tinha acabado. Tenho o Rafael como exemplo de homem, amigo, de tudo de bom que um ser humano pode viver. Ele era tão meu amigo que quando eu trocava de carro, fazia questão que ele fosse o primeiro a andar comigo. Éramos amigos havia 12 anos e a nossa amizade foi sendo fortalecida dia após dia. Foi muito triste perdê-lo.Tínhamos uma viagem marcada para os Estados Unidos no meio do ano. É triste ver que meu amigo não está mais aqui.

Você tem contato com a família dele?
Sim. Os irmãos dele são pilotos, um deles trabalha conosco. Na semana passada recebemos um prêmio de aviadores do ano e o Rafael foi homenageado. Me homenagearam também. Peguei o meu troféu, dei para a esposa dele e disse: “Esse troféu não é meu. É do Rafa. Quero que mais tarde diga para o seu filho que foi o amigo do papai que estava com ele no dia em que ele morreu que o está premiando pelo pai que ele era, que colocava a família em primeiro lugar”. Ele era um exemplo. Foi uma forma mínima de homenageá-lo. Eu trocaria tudo para ter o meu amigo de volta.

Você acha que Deus te deu uma segunda chance?
Eu me considero o próprio milagre. E quando vou a algum lugar digo que quem não acredita em milagre está olhando para um. Foi um milagre extraordinário que Deus fez. Agradeço muito por estar aqui hoje.

Como você encara a vida depois do acidente?
Eu encaro a vida de uma forma muito boa, de fazer o bem para as pessoas e com os pensamentos voltados para Deus. Sou cristão e me aproximei mais de Deus, voltei a frequentar a igreja depois disso. Nunca abandonei, mas não tinha compromisso. Hoje vou duas vezes por semana. Eu estava mais preocupado com as bênçãos do que com o abençoador.

Que outra lição você tirou depois de tudo o que passou?
Que a gente tem que dar muito mais valor à família. Falava muito pouco com a minha família. Então prezo mais isso, de estar mais próximo deles. Estou empenhando em construir uma família. E sei que hoje esse é um testemunho muito forte, uma experiência muito forte para eu me dar conta da presença de Deus na minha vida.

Quais os seus projetos daqui em diante?
Voltei a trabalhar no final de junho. Até o fim deste ano vou tirar o meu brevê e ser piloto. Estou atuando agora mais na parte administrativa e só vou voar quando for muito necessário. Já voei depois do acidente e não foi fácil. Estava com um pouco de medo, mas já passou. Tudo na minha vida nesses meses foram tentativas. Tinha que vencer o receio, pois na minha vida sempre fui de topar desafios.

Algo que queira acrescentar?
Quero agradecer ao presidente da “Rede Record de Televisão”, Alexandre Raposo, ao vice-presidente, Honorilton Gonçalves, aos meus companheiros, ao Departamento de Jornalismo, ao RH e à assistente social pela dedicação e empenho. Ao neurocirugião Marcílio Proa Junior, do hospital Albert Einstein, e a toda a equipe. Ao comandante Dato, que nos socorreu no dia do acidente, e a todos aqueles que oraram por mim. Deus ouviu a oração dos justos. Era muita gente orando e torcendo.

Por Sheila Bastos/Com informações da Arca Universal / OgalileO

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