13 setembro 2010

PASTOR BOMBA: Queimar ou não o Alcorão, eis a questão!

Faz 9 anos que a nação americana foi ultrajada no maior atentado terrorista de sua história.
Milhares de pessoas tiveram suas vidas ceifadas na queda das torres gêmeas em NY, e nos outros dois atentados subsequentes. Tive o prazer de subir em uma das torres em 1991, e o desprazer de ver o enorme buraco que restou dela quando voltei a Manhattan em 2006.

Não se enganem. A ferida aberta no orgulho americano ainda sangra.

Recentemente foi anunciada a construção de uma mesquita vizinha ao lugar dos atentados.
Houve manifestações de descontentamento em todo o País. Sem dar ouvidos à opinião pública, tanto o prefeito de Nova York, que é judeu, quanto o presidente dos EUA, apoiaram a ideia da construção do lugar de adoração para os muçulmanos.
O que muitos desconhecem é que na cultura islâmica, sempre que se obtem uma vitória militar, constrói-se uma mesquita em comemoração, equivalendo ao hábito que os romanos tinham de edificar um arco do triunfo para comemorar seus êxitos militares.
Ainda que não seja esta a intenção, há que se considerar a repercussão negativa que este empreendimento geraria.

Penso que um País democrático como os EUA não deveriam impedir a construção de qualquer edifício para atividades religiosas.
Entretanto, para evitar que isso seja interpretado como um ultraje à memória das vítimas e aos seus familiares, os governantes deveriam buscar uma solução junto à comunidade muçulmana. Talvez pudessem oferecer outra propriedade para a edificação da mesquita.
Penso que, se de fato não há dolo por parte dos religiosos, estes aceitariam a oferta sem titubear.

Já se podia esperar que houvesse manifestações iracundas, principalmente por parte das alas mais conservadoras e fundamentalistas da sociedade americana.
O pastor Terry Jones, de uma pequena congregação em Gainesville, Florida, chamada Dove World Outreach, com apenas cinquenta membros, resolveu peitar todo mundo, e anunciou que relembraria os atentados queimando duzentos exemplares do Alcorão, livro sagrado do Islã. Todo mundo entrou em polvorosa.

Confira algumas das reações ao inusitado protesto do pastor Terry Jones:

* O banco cancelou a hipoteca de sua casa;
* A companhia de seguros cancelou a apólice da propriedade da Igreja;
* O site da Igreja foi cancelado e apagado pelo servidor;
* A Associated Press e a Fox News garantiram a seus espectadores que não mostrariam cenas da queima do livro caso esta ocorresse;
* Colunistas e articulistas, até mesmo à direita, informaram que era uma maluquice, um absurdo, uma loucura.
* A Interpol anunciou que o ato poderia levar a novos atentados.
* O FBI (a polícia federal americana) entrou em contato com Jones para pedir que desistisse de sua iniciativa.
* O General Petraeus, comandante das forças no Afeganistão, manifestou-se contrário, afirmando que poria em risco a vida de tropas;
* Hillary Clinton, Secretária de Estado, manifestou-se rispidamente contrária;
* Finalmente o próprio presidente americano, Barack Obama, pediu publicamente ao pastor para não queimar o livro.

Até a atriz Angelina Jolie, premiada com o Oscar, que está em visita ao Paquistão para chamar a atenção para a situação de milhões de vítimas das piores enchentes na história do país, declarou que jamais seria favorável a planos desse tipo.
"É claro que não. É claro que não", disse ela em coletiva de imprensa, quando lhe foi perguntado se apoiava os planos do pastor Jones.
Jolie disse que "mal tinha as palavras" com as quais expressar sua oposição à queima do texto religioso de qualquer fé. Ela saudou a oposição do governo americano aos planos, que já suscitaram protestos irados no Afeganistão, onde tropas americanas combatem militantes do Talibã.

Angelina Jolie com mulheres no Paquistão

Finalmente, o pastor se viu persuadido a desistir do ato, com base a uma promessa (depois desmentida) de mudança do local da mesquita.

Terry Jones embarcou nesta sexta-feira para Nova York, para encontrar-se com o clérigo muçulmano Feisal Abdul Rauf, responsável pelo projeto de construção do centro islâmico.
Jones afirma que o manifesto está suspenso temporariamente, até que saiba com mais clareza a respeito de uma possível mudança no plano de construir o centro islâmico no quarteirão em que aconteceram os atentados.
O clérigo muçulmano declarou que estaria "preparado para analisar a possibilidade de reunião com qualquer um que esteja comprometido com a busca pela paz", mas acrescentou que atualmente não tinha planos de se reunir com Jones.

Tolerância
Barack Obama, que tem sido insistentemente acusado de ser um muçulmano disfarçado na Casa Branca, nesta sexta-feira fez um apelo por tolerância religiosa, em meio à polêmica criada pelos planos de Terry Jones.

"Eu acho que é absolutamente importante neste momento que a maioria esmagadora dos americanos mantenha aquilo que temos de melhor: a crença na tolerância religiosa, clareza sobre quem são nossos inimigos", disse Obama, em uma coletiva de imprensa na Casa Branca.

"Nossos inimigos são a (rede extremista) Al-Qaeda e seus aliados, que estão tentando nos matar, mas têm matado mais muçulmanos do que ninguém", disse Obama. "Nós temos de garantir que não comecemos a nos voltar uns contra os outros."

"A ideia de que nós possamos queimar textos sagrados da religião de outros é contrária àquilo sobre o qual esta nação foi fundada. E minha esperança é que este indivíduo evite fazê-lo", afirmou.

"Eu não acredito que fomos nós que elevamos essa história, mas é, na era da internet, algo que pode causar profundo dano em todo o mundo, então temos de levar muito a sério", disse Obama.

Diante dos fatos, resolvi fazer uma pesquisa rápida pela blogosfera cristã pra saber o posicionamento de alguns líderes e blogueiros.

Mãe e filho queimados por radicais muçulmanos no Paquistão

Alguns apóiam a manifestação de Jones, alegando que enquanto autoridades se manifestam contrárias à ameaça de se queimar livros sagrados, cristãos estão sendo queimados vivos em países muçulmanos.

Os que se declaram contrários à ideia de Jones, demonstram preocupar-se com a reação muçulmana, podendo culminar mesmo em novos atentados terroristas não apenas nos EUA, mas no mundo afora.

Ambos têm sua razão. De fato, os governos deveriam demonstrar maior preocupação com os cristãos que têm sido brutalmente assassinados em países islâmicos.
Mas isso não nos dá o direito de retalhar.
Por que eles queimam nossos irmãos, vamos queimar seu livro sagrado?
Não vemos esta reação por parte dos crentes primitivos em face à perseguição do império romano.
Os apóstolos nunca revidaram, nem fizeram manifestos, nem mesmo tentaram impedir a construção de templos pagãos.

Também concordo que devemos nos preocupar com a repercussão que isso possa ter, estimulando, inclusive, o recrutamento de jovens para a Al-Qaeda. Porém, creio que como cristãos deveríamos nortear nossas atitudes pelo amor,e não pelo medo.

Se não gostaríamos de ver símbolos cristãos sendo profanados, deveríamos respeitar os símbolos de outros credos. Não foram os apóstolos que atearam fogo na montanha de livros de feitiçaria que se formou na cidade de Éfeso (At.19:19). Não! Foram as próprias pessoas, que uma vez convertidas à fé cristã, decidiram livrar-se de seus “livros sagrados”.

Só há maneira de nos aproximarmos do mundo islâmico, bem como dos hindús, budistas, kardecistas, etc.: através do amor.
Será o amor que demonstrarmos a eles que fará calar toda a argumentação.
Não é tempo de atearmos fogueiras. É tempo de hastearmos a bandeira da paz.



* Interessante que o nome da igreja do pastor Jones começa com "dove", que significa pomba, símbolo da paz.

hermesfernandes.com

Um comentário:

  1. Isso é a imagem de um Deus bom que manda ou permite,não sei como se chama,queimar vivos os seus filhos por causa de uma guerra que decorre a milhões e milhões de anos

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