No Japão e na Áustria, elas já são empregadas para rejuvenescer a face e dar mais volume aos seios.
No Brasil, cresce o debate sobre o método
Associadas à esperança de cura de doenças como a diabetes ou o mal de Parkinson, as células-tronco agora são também objeto de pesquisa para o uso em tratamentos de beleza.
Cirurgiões plásticos ao redor do mundo estão testando mais essa aplicação e começam a oferecer aos seus pacientes procedimentos estéticos com células-tronco adultas para promover o rejuvenescimento da face ou dar mais volume aos seios e ao bumbum. Isso já está ocorrendo em países como o Japão, os Estados Unidos e a Áustria. No Brasil, a Clínica Ivo Pitanguy, no Rio de Janeiro, está entre os centros que se dedicam à investigação do método.
Até o final do ano, um grupo de pacientes do especialista deverá receber injeções de gordura humana enriquecida com células-tronco na face, para combater as marcas da passagem do tempo. “Na primeira fase do nosso estudo, conseguimos separar a camada inteira de células-tronco da gordura por um processo de centrifugação”, diz Natale Amorim, assessora científica do centro médico.
Divulgado em eventos de cirurgia plástica, o método está causando polêmica. Na semana passada, por exemplo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou um alerta chamando a atenção dos médicos para a falta de estudos que comprovem a eficiência e a segurança da técnica, que é experimental. A entidade recomenda cautela e afirma ainda que não há possibilidade de uso dessa terapêutica fora de centros de pesquisa.
A terapia consiste em ministrar injeções de gordura da própria paciente misturadas a um concentrado feito a partir das suas células-tronco.
Para isso, a pessoa se submete a uma lipoaspiração para a retirada de tecido adiposo, em geral de uma área do corpo em que a gordura esteja sobrando.
Uma parte da amostra é reservada, enquanto outra é processada para que dela sejam extraídas as células-tronco adultas.
Depois, essas células serão adicionadas à gordura armazenada que será usada para remodelar a face, mãos e colo e ou aumentar seios, bumbum e pernas.
“Quem diz que isola as células-tronco da gordura no consultório
para logo depois injetar no paciente está mentindo”
Luiz Haroldo Pereira, cirurgião plástico
Na verdade, o que os pesquisadores estão fazendo é reciclar uma técnica praticada desde os anos 1980, a lipoescultura ou lipoenxertia, feitacom a aspiração da gordura da paciente onde ela sobra para injetar onde falta.
Na versão original, o procedimento nunca deu resultados muito bons.
Em metade dos casos, a gordura enxertada é rapidamente reabsorvida, o que anula os efeitos. Para defensores da técnica, a falta de circulação sanguínea nesses tecidos seria a razão da pouca duração dos seus efeitos.
Sem a nutrição devida, eles morreriam. Em teoria, a presença das células-tronco contornaria esse problema graças à sua capacidade única de se transformar em outros tipos de células – nesse caso, elas se diferenciariam em células sanguíneas, irrigando o tecido.
Para o cirurgião-plástico japonês Kotaro Yoshimura, da Universidade de Tóquio, o recurso funciona. “A assimilação da gordura injetada melhorou e hoje podemos aumentar qualquer parte do corpo com tecido natural e sem cicatrizes”, disse ele à ISTOÉ. Nos últimos sete anos, Yoshimura aumentou os seios de 500 mulheres com o método, considera- do por ele melhor do que os implantes de silicone.
Porém, há muitas divergências sobre a eficiência do procedimento.
Uma delas é sobre a própria existência das células-tronco na gordura injetada.
Para o CFM, não há dados consistentes para comprovar que elas, de fato, estejam lá.
A dúvida recai especialmente sobre a possibilidade de se extrair essas células da gordura em consultório.
Para o cirurgião plástico Luiz Haroldo Pereira, do Rio de Janeiro, isso não é possível. “Quem diz que tira a gordura do paciente, isola as células-tronco no consultório e injeta a combinação logo depois está mentindo”, diz o especialista, um dos pioneiros da lipoaspiração e da lipoescultura no País.
O uso das células-tronco no campo da beleza tem sido motivo de preocupações ainda maiores. “Não estão descartados riscos como a transformação dessas células, por causa do seu potencial de crescimento, em tecidos indesejáveis”, disse à ISTOÉ a médica americana Karol Gutowski, que liderou uma força-tarefa da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos sobre o uso de gordura no aumento dos seios.
“Ainda não há estudos clínicos completos e benfeitos demonstrando seus benefícios na medicina estética”, sentencia a especialista.
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