14 novembro 2010

10 Perguntas para Emerson Fittipaldi - Movido a Fé

Emerson Fittipaldi dispensa apresentação. Primeiro brasileiro a vencer uma corrida de Fórmula 1 (feito que completou 40 anos em 2010) e a conquistar um título na categoria, ele também foi responsável por abrir o mercado norte-americano para os colegas brasileiros.
Apesar de ter sofrido colisões graves nas pistas, foi depois de um acidente aéreo, em 1997, na companhia do filho Lucca, que sua vida mudou.
A partir daquele momento, se dedicou aos estudos bíblicos e deixou a rotina de celebridade de lado para ter uma vida com Deus.
Do Salão do Automóvel de São Paulo, onde foi lançado um carro com a sua assinatura, ele falou com exclusividade à Folha Universal.

1 – Você sofreu acidentes na Fórmula 1 e um grave na Indy, em 1996. Um ano depois, aconteceu a queda do seu ultraleve. Como e por que esse episódio o aproximou de Deus de forma tão intensa?
Quando a gente desconhece a vida cristã não sabe o valor que está perdendo. Eu levei muito tempo para entender isso. De 15 anos pra cá, o Alex Dias Ribeiro (também ex-piloto de Fórmula 1, que é pastor, tem me ensinado muito. Eu estava arrebentado no hospital quando ele entrou com a Bíblia e eu
falei: “Você vai me dar a extrema unção?” Ele deu risada e foi a partir dali que eu comecei a estudar. É espetacular. Quando se tem o espírito cristão verdadeiro, a vida é melhor em todos os sentidos. Foi um divisor de águas em minha vida.

2 – Com as conquistas no automobilismo,você fez fama, fortuna e sempre fez parte do jet set. Hoje depois da sua conversão, o que mudou?
Em julho deste ano, eu fiz uma palestra,em Miami, em um evento da minha igreja, a Fellowship Church, do Texas. Aproveitei a ocasião para organizar uma exposição de carros esportivos com amigos fora do teatro.Tinham máquinas de até US$ 2 milhões (R$ 3,4 bilhões). E tinha gente da igreja que nunca tinha visto um automóvel daqueles. Comecei perguntando se as pessoas tinham reparado aqueles carros. Então eu disse que tem gente com um carrão daqueles, com muito dinheiro,mas com um vazio por dentro.
O poder financeiro não traz felicidade se a pessoa não tem uma vida com Deus.

3 – A Fórmula 1, que ficou marcada por manobras inescrupulosas e pelos gastos estratosféricos que as equipes tinham a cada temporada, é formada por muitas pessoas vazias?
É um lugar muito ingrato e traiçoeiro.Muito pesado. Há muito dinheiro, ganância e excesso de egoísmo. Uma categoria de difícil convivência. O tempo todo, um fala mal do outro. Todo mundo sofre lá.

4 – Em 2010, a sua primeira vitória na Fórmula 1 completou 40 anos. É um ano para celebrar. Por isso você aderiu novamente às costeletas?
É pura nostalgia. Eu fiz de propósito (risos).Como eu poderia guiar a Lotus, aqui em Interlagos (Emerson andou no carro desua primeira conquista na categoria no GP do Brasil deste ano), sem as costeletas?

5 – Um de seus maiores feitos como esportista e empreendedor foi fundar a primeira equipe nacional na Fórmula 1,a Copersucar Fittipaldi.O que determinou o fim da escuderia?
Infelizmente, naquela época, a imprensa brasileira não entendia o que era a Fórmula 1. Era algo novo no País.Ficou uma cobrança tão dura por resultados,que começaram a nos desmoralizar. Em 1980,a gente não conseguia nem arrumar mais patrocínio no Brasil. Dois anos depois, tivemos que encerrar as atividades.

6 – Para uma equipe nova, a Copersucar conseguiu um surpreendente segundo lugar no GP do Brasil de 1978.Hoje o tratamento seria diferente?
Com certeza. E o mais frustrante é que eu sabia que a equipe estava num ótimo momento, contando com as pessoas certas. Levasemuito tempo para uma escuderia atingir o ápice. Atualmente, a imprensa entende melhor do assunto. A gente andava sempre no bolo domeio, não éramos retardatários. Em 1978, terminamos à frente da Ferrari e da McLaren, competindo apenas com um carro. No fim foi uma experiência válida.

7 – Como foi seu ingresso na Fórmula Indy?
Em 1980, eu não gostava do full ground effect (chassi padrão da Fórmula 1 da época), que era um carro que ninguém se divertia e inseguro. Isso me desmotivou, mas acabou sendo bom porque abriu as portas para os Estados Unidos.

8 – O seu sucesso na Indy acabou abrindo mercado para outros pilotos brasileiros. Mas por que a categoria, depois de ameaçar a Fórmula 1, enfraqueceu tanto?
Uma briga política dividiu a Indy em duas,o que acabou fortalecendo a Nascar (similar a Stock Car). Apesar da dificuldade inicial de me adaptar às pistas ovais, acabei pegando gosto pela coisa, tanto que fui campeão em 1989 e
ganhei as 500 milhas de Indianápolis duas vezes. E eu fui muito bem acolhido. O ambiente lá é muito mais agradável que o da Fórmula 1, pois o norte-americano respeita o esporte.

9 – O automobilismo é um esporte de difícil acesso. O que pode melhorar esse quadro?
Hoje o acesso é até mais fácil, mas o kart deveria custar bem menos. Eu estou lutando para termos uma categoria mais barata. Mas a difi culdade de patrocínio é desde o kart até a Fórmula 1.

10 – Fora das pistas, você é reconhecido como um empreendedor. Aos 63 anos, você pensa em se aposentar?
Eu tenho o trabalho dentro de mim. Homem não pode parar de trabalhar. É igual bicicleta: se parar cai. Você pode diminuir o ritmo, mas não pode parar.

Leandro Duarte
redacao@folhauniversal.com.br

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