06 novembro 2010

INTIMIDADE É UMA DELÍCIA!

E conversar não é apenas um jeito de obter sexo

Dizem que intimidade é uma palavra que tem significado diferente para homens e mulheres. Para os homens, ela seria sinônimo apenas de proximidade física: a possibilidade de tocar, tirar a roupa e transar. Para as mulheres, a palavra refletiria algo inteiramente subjetivo. Significaria a possibilidade de ser compreendida de forma profunda e emocional, com conotações de cumplicidade e acolhimento.

Com base nos meus próprios sentimentos e no comportamento dos homens com que eu tenho convivido, não acho que exista tamanha diferença.
Nem a noção masculina de intimidade é inteiramente destituída de sutileza nem as mulheres são completamente alheias ao teor físico e sexual da intimidade.
Mas há uma diferença de ênfase.
Os homens parecem mais preocupados em obter proximidade física, enquanto as mulheres priorizam algum tipo de contato afetivo e emocional.

Esses, porém, são clichês que nem sempre correspondem à realidade. Lembro de uma moça com quem eu saí algumas vezes que preferia transar com gente estranha. “Informação demais”, ela dizia, “me atrapalha”.
E há homens que não se sentem seguros em ir para a cama com uma mulher sem antes criar uma zona de conforto afetivo por meio do conhecimento e do convívio.

Dito isso, eu acho a intimidade essencial e imensamente prazerosa. Todos os tipos. Conversar intensamente com uma mulher, por exemplo, não é apenas um meio para se chegar à intimidade física. É um prazer em si mesmo.
Algo que os homens deveriam fazer com menos pressa e com mais cuidado. Desfrutar da intimidade afetiva de uma mulher é um privilégio que frequentemente tem conotações eróticas, embora possa jamais tornar-se físico. É prazer sem sexo, assim como existe sexo sem prazer.

Ao escrever o parágrafo acima me lembrei de uma moça que esteve abertamente apaixonada por seu analista durante alguns meses. Por um longo período, esse foi o tema recorrente da conversa entre eles.
De início, quando ela me contou, eu achava aquilo meio bizarro, mas, aos poucos, foi fazendo sentido. Ela sentia tanto prazer em dividir a intimidade dela com o psicanalista que a sensação podia ser percebida como paixão, mesmo sem chegado (que eu tenha sabido) a qualquer forma de contato físico.

Mas intimidade não é sinônimo apenas de conversa e informação. Ela significa estar à vontade para ser você mesmo, em várias dimensões.
Seres humanos desabrocham nas situações de intimidade. Eles se tornam mais engraçados, mais frágeis e muito mais ousados.
Os homens deixam cair a máscara de conquistador e mostram-se mais ternos e mais complexos, enquanto as mulheres podem dar vazão a aspectos menos convencionais da sua personalidade. Isso tudo tende a ser muito envolvente e muito erótico.

Há quem goste,mas eu acho o sexo sem intimidade uma droga. Coisa de adolescentes e de amadores.
Imagine você passar a vida transando uma única vez com as pessoas – essa é a perfeita metáfora do sexo sem intimidade.
Há o turbilhão da conquista, há a sensação maravilhosa de ver um corpo nu pela primeira vez, há o triunfo de colocar as mãos num objeto desejado e... pronto, acabou. O resto é precariedade. As mãos desajeitadas. Palavras que faltam ou sobram. A vergonha e a insegurança. O cérebro funcionando numa dimensão paralela. A broxada. O gozo precoce... As possibilidades de erro são tantas que ninguém com alguma vivência leva a sério um fiasco de primeira vez – da mesma forma que as pessoas experientes ficam impressionadas com sexo bom de primeira. É muito improvável.

Sexo bom em geral é precedido de intimidade. Há tempo envolvido, vivências comuns e conhecimento do outro.
Você descobre as fantasias que funcionam para os dois - e tem espaço e intimidade para lançar mão delas. Sem esse terreno comum o sexo não avança - ou avança de um lado só, penso, com uma das partes se sentindo incompleta ou insatisfeita enquanto a outra se exibe.

Nos últimos anos eu ouvi várias vezes, em tom de piada, que “intimidade é uma merda”.
A queixa se refere aquele momento da relação em que as pessoas fazem xixi de porta aberta e começam a contar coisas que o outro preferiria não saber. Eu nunca achei isso ruim.
Acho um preço baixo a pagar pela proximidade física verdadeira, pelo acesso ao corpo e à mente da parceira.
Sem essa intimidade, as relações, mesmo gostosas, não passam de teatro: todo mundo fica pelado, interpreta e fala alto, mas ninguém se transforma ou se vincula.


(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)-IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA

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